Realizado por Scott Cooper, The Pale Blue Eye conta a história de Augustus Landor (Christian Bale), um detetive reformado que em 1830, com a ajuda de um jovem cadete de nome Edgar Allan Poe (Harry Melling), é contratado para resolver um aparente homicídio na academia militar de West Point.
The Pale Blue Eye oferece uma experiência estranha na sua visualização, principalmente porque os seus pontos negativos são aspetos inevitáveis ligados à força principal desta história.
A estrutura da narrativa é bastante interessante. O filme apresenta o protagonista e a problemática imediatamente para poder aprofundar tanto o mistério que move a história como também as personagens principais. Apesar de ser excecional nesta tarefa no que toca à dinâmica dos dois protagonistas, o mesmo não se pode dizer em relação aos personagens secundários. É neste ponto que encontramos os aspetos negativos mencionados no parágrafo anterior. Se, por um lado, a dinâmica de passo a passo no argumento faz com que exista uma sensação constante de progressão, no segundo ato percebe-se que os personagens secundários estão só ali para avançar os protagonistas para o próximo ponto, criando assim um sentimento de unidimensionalidade, salva apenas pela ótima atuação dos atores encarregues de dar vida a estas pessoas. As suas interpretações são intrigantes, o que, para todos os efeitos, é o que se quer num filme com uma temática destas. Porém, não é desejável apreciar uma história mais por aqueles que a interpretam do que por aquilo que é interpretado.
O argumento também dá uso a certas trapaças narrativas para justificar a ida de um ponto para o outro. São vários os momentos em que os protagonistas chegam a uma conclusão ou progridem na sua investigação através de truques baratos do argumento, fazendo com que esta progressão saiba a pouco.
O segundo ato é o mais débil, sustentando-se demasiado nas atuações de Bale e Melling, que para todos os efeitos conseguem carregar esta passagem limitada na história até ao excelente ato final. Pode ser argumentado que se os protagonistas conseguem esconder as fragilidades narrativas, é porque, se calhar, essas fragilidades não são significativas, mas isso seria retirar, injustamente, peso ao enorme trabalho dos dois atores. Quando a história é, inevitavelmente, obrigada a abrandar e não se tem um mundo com personagens tão interessantes como os protagonistas, ou, pelo menos, interessantes o suficiente para servirem como um verdadeiro desafio, as falhas são destacadas. É, portanto, esta incessante dependência do argumento na capacidade dos dois atores e na sua estratégia de progressão narrativa que torna este ato ligeiramente aborrecido.
O terceiro ato compensa. O plot twist é bastante bem colocado e é apresentado de uma forma que funciona não só pela surpresa em si, mas como uma autêntica bomba emocional na história, adicionando um certo nível de complexidade emocional a tudo aquilo que o filme construiu anteriormente.
A direção de fotografia cria uma atmosfera de constante perigo. É uma experiência extremamente imersiva que adiciona bastante ao mistério da narrativa e faz de The Pale Blue Eye um excelente filme. Ainda assim, apesar das boas atuações, sofre com um abrandamento abrupto e demorado no segundo ato e nas suas dificuldades em justificar o nome de Allan Poe, utilizando este mais como um nome simbólico do que propriamente algo que adicione à forma de contar esta história.