The Monkey (2025)

de Pedro Ginja

No último filme de Osgood Perkins, The Monkey, é muitas vezes repetida a frase “Everybody Dies” como que para nos relembrar da efemeridade da vida. O argumento baseia-se numa short story de Stephen King, publicada em 1985 como parte de uma antologia chamada Skeleton Crew, centrada num macaco de brincar com címbalos nas mãos sobre o qual parece pairar a morte. Com as vívidas descrições das suas características corporais e o intenso horror associado aos inúmeros corpos que se amontoam perto de si, Stephen King cria aqui uma história icónica. Ainda hoje, e após inúmeras reedições deste livro, continua ainda a ser usada a imagem deste macaco para representar este conjunto inusitado de grandes contos. E num livro onde se inclui outras “pequenas grandes histórias” como The Mist, The Raft, The Jaunt e Survivor Type, etc, só atenta ao impacto visual deste brinquedo, já com inúmeras presenças noutros filmes de terror, nunca materializados até agora.

Osgood Perkins substituí os címbalos por baquetas e um tambor expandindo o universo criado, no pequeno conto, para a história de dois irmãos gémeos, Hal e Bill (Christian Convery), que encontram uma prenda do seu pai no sótão – um macaco de brincar. Com o passar do tempo apercebem-se que a presença do brinquedo macabro é sinal de acidentes estranhos e mortes inexplicáveis. Ninguém está a salvo da sua fúria assassina.

Osgood Perkins é claramente um fã de Stephen King e este argumento prova-o. O trabalho de Stephen King, nesta história em particular, é impactante por estabelecer uma atmosfera de terror e de incerteza assente no destino das suas personagens e o argumento explora bem esse facto. No entanto o que em King parece demasiado expositivo e longo, aqui adquire uma urgência assente num humor negro, bem conseguido, e uma edição e trabalho sonoro usados de forma inteligente. A imaginação revelada nas inúmeras sequências de morte, presentes no filme, é outro dos destaques inesperados. Ainda mais impressionante quando parece que já se viu todas as diferentes maneiras de morrer na imensa oferta presente no género de terror. Contudo, ainda há espaço para surpresas mesmo que seja inevitável sentir o aspecto episódico da narrativa, sempre em busca de um choque sucessivamente maior, e de uma constante superação do que lhe precedeu.

Dividindo atenções entre dois espaços temporais, os irmãos gémeos Hal e Bill, em adolescentes, interpretados por Christian Convery, enquanto Theo James pega nas rédeas das personagens na idade adulta. Em ambos os casos o casting acerta, pois ambos conseguem criar duas personagens distintas entre si mas igualmente complexas na sua identidade. Christian Convery consegue-o através das sensibilidades opostas e das diferentes motivações que empresta a cada um dos irmãos, enquanto no caso de Theo James a sua eficácia resulta por brincar com as expectativas, dos papéis que costuma representar, e pelo excelente timing cómico do actor. A isto junta-se o facto de nunca se levar demasiado a sério e estar claramente em sintonia com o tom do filme, o que permite ao espectador entrar no seu ritmo peculiar com facilidade.

Nos secundários há que destacar Tatiana Maslany com um humor bem mais negro e seco, que todos os outros, mas que o equilibra na perfeição com o lado emocional da história, patente no amor incondicional pelos seus filhos. As micro-expressões faciais, numa personagem fechada nos sentimentos, são particularmente impressionantes de acompanhar e o exagero expressivo nas cenas imaginadas/sonhadas, pelos filhos, um excelente exemplo do seu range como actriz.

The Monkey mostra um lado bem diferente de Osgood Perkins, após Longlegs (2024), e testa o perigoso equilíbrio entre comédia e terror de forma eficaz. Não há momentos para respirar entre as gargalhadas e o terror constante, assente nas surpreendentes sequências de morte, ao som do tambor do assustador e icónico macaco. Chucky e Anabelle: tomem notas, pois The Monkey chegou para ficar.

3.5/5
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