The Lost City (2022)

de Pedro Ginja

“Romance de cordel” era uma expressão que não ouvia desde a minha juventude; parece ter sido há uma eternidade e foi nostálgico voltar a ouvi-la. Era muito comum usar esta expressão para referir romances de qualidade duvidosa e ver, de novo, esta designação como legenda durante o filme levou-me ao passado. Aos domingos à tarde a ver romances de aventura, como Romancing the Stone (1984) de Robert Zemeckis, com os lendários Michael Douglas e Kathleen Turner, em que um par que não se suporta, se une para procurar uma pedra lendária, da qual não se conhece o paradeiro e para isso têm de investigar a sua possível localização, acabando por se apaixonarem perdidamente. Possivelmente não envelheceu bem, mas na altura era entretenimento de topo e garantia de uma tarde bem passada.  

Chegamos a 2022 e aparece The Lost City (2022), realizado por Adam e Aaron Nee, com Sandra Bullock e Channing Tatum nos papéis principais. A história conta a vida de Loretta Sage (Sandra Bullock), uma escritora de romances de cordel, em processo de luto, responsável por uma famosa saga centrada numa personagem principal de nome Dash McMahon. Totalmente infeliz com a sua vida profissional, escreve sem paixão e anseia por se libertar das correntes desta saga, mas a sua editora Beth (Da’Vine Joy Randolph) tem outras ideias. Acompanhada por Alan Caprison (Channing Tatum) – o modelo presente em todas as suas capas de livros, Loretta parte num book tour do qual não quer fazer parte. O passado acaba, no entanto, por se intrometer na pessoa de Abigail Fairfax (Daniel Radcliffe), que procura a Cidade Perdida de D, que dá nome ao último livro de Loretta. A confusão está instalada e o rapto de Loretta por Abigail despoleta o início desta história e do futuro de Loretta e Alan.

O que diferencia estes filmes não é o final, que todos sabemos será “… e viveram felizes para sempre”, mas sim o caminho até lá chegar. O sucesso ou insucesso destas produções depende da química entre os protagonistas que, neste caso, existe mas apenas do ponto de vista cómico. A nível romântico, a falta de afinidade é notória e não consegue vender a ideia de um casal como outros filmes. Além do já referido Romancing the Stone (1984), relembro também os vários Indiana Jones ou o mais recente The Mummy (1999), em que os protagonistas mantinham este equilíbrio ténue entre o ser cómico e o ser romântico com nota máxima. Sandra Bullock parece estar com um constante ar de enfado, que apesar de fazer sentido com a personagem de Loretta, retira o foco de si e nos faz torcer por Alan (Channing Tatum), que goza à grande com a sua imagem de sex symbol. Os protagonistas fazem o que podem com a história mas os destaques vão para Daniel Radcliffe, como Abigail Fairfax, um misto de menino rico mimado e intelectual frustrado, com o actor a deixar-se ir no exagero e ridículo da sua personagem, e para a maior surpresa (e também gargalhadas) da história, na presença de Brad Pitt, como Jack Trainer, que só não rouba o filme porque o tempo no ecrã é pequeno. Para além disso, recordo o início inteligente a brincar com a realidade e a ficção em tempo real, as belas paisagens e o Oscar, da série The Office (2005-2013), a “fazer de Oscar” com sotaque mexicano. De resto há pouco mais que o desenrolar dos habituais clichês em que todos fazem o que é suposto sem sair do caminho “certo”, algumas piadas de qualidade duvidosa, um ou outro revirar de olhos ocasional e um monumental “EU NÃO ACREDITO!” numa cena a meio dos créditos finais.

Existem mistérios para descobrir, lições a tirar e traumas a ultrapassar com viagem garantida para o final feliz, que mais precisamos nestes tempos que correm. Mais do que nunca é necessário que, também este tipo de filme, tenha o seu espaço na sala de cinema, num mercado cada vez mais saturado de sequelas, super-heróis e os constantes remakes de sucessos garantidos. Uma viagem disparatada para um paraíso tropical, em busca de um tesouro de valor incalculável poderá não ser original ou inovadora mas é inteligente ao apelar ao factor nostálgico de outros tempos, em que tudo era simples. Entretenimento de qualidade mediana num domingo à tarde? Vamos a isso.

2.5/5
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