“My pride, my joy, you could rule the world.”
É inevitável que as comparações, com a trilogia original de Peter Jackson, pesem sempre sobre os novos projectos ligados ao mundo criado por J.R.R. Tolkien. A ideia de começar este filme partiu da necessidade da New Line Cinema de não perder os direitos sobre os livros de Tolkien para futuros projectos na Terra Média. Não é, com certeza, o maior incentivo para a criação de algo válido mas apesar da pressa houve inteligência em, pelo menos, pegar em Philippa Boyens, co-escritora da trilogia original com Peter Jackson, para produzir. Havia ainda o desejo de mostrar o universo do Senhor dos Anéis num meio totalmente diferente, o anime japonês, e, para isso, foi chamado Kenji Kamiyama para nos mostrar, em maior detalhe uma das muitas histórias presentes nos apêndices de Tolkien, centrada no reino de Rohan.
The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim passa-se 183 anos antes dos eventos de The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (2001) e centra-se no reinado de um dos maiores reis de Rohan, Helm Hammerhand (V.O. Brian Cox). A heroína é, no entanto, uma das suas filhas, Hèra (V.O. Gaia Wise), menosprezada pelo próprio pai mesmo sabendo que seria a líder mais indicada em Edoras, a capital do reino. Com o advento da guerra, com uma nação vizinha liderada por Wulf (V.O. Luke Pasqualino), a sobrevivência do povo de Rohan está em risco. Estará Hèra à altura dos desafios e da responsabilidade a si imposta?
Os créditos iniciais trazem consigo uma elevada dose de nostalgia com os apontamentos da banda sonora de Howard Shore a irromperem da música, produzida para este filme por Stephen Gallagher. Apesar de ser um estreante, em grandes produções cinematográficas, consegue infundir o espírito da trilogia original na sua criação mas pedia-se um pouco mais de personalidade própria noutros momentos. Aliás, a reverência para com a trilogia original de Peter Jackson é o seu maior problema, que no início da história é particularmente gritante, com vários momentos em que se leva demasiado a sério e não deixa as influências da animação japonesa infundir a narrativa com sangue novo. No lado da arte o sentimento é, felizmente, totalmente o oposto. O estilo artístico imposto por Kenji inspira-se na arte criada por John Howe e Alan Lee mas coloca-lhe uma roupagem nova e apelativa, especialmente marcante para fãs de anime. Com o avançar do filme, a confiança para se retirar do caminho seguro e arriscar em alguns arrojados estilos artísticos acontece mais frequentemente, o que é importante para captar a atenção do espectador, perdida entretanto. Existem alguns planos particularmente belos.
O ponto inferior é, também por comparação, a qualidade da animação. Habituados à constante torrente de propostas com animação extraordinária vindas do Japão é particularmente constrangedor ver a falta de fluidez que é apresentada nesta produção. No elenco de vozes a qualidade é muito díspar com o destaque óbvio a recair sobre Brian Cox, no papel de Helm Hammerhand. Estoico, sábio e emocional mas volátil e teimosamente agarrado às tradições e costumes do seu povo. Quando a sua quebra emocional chega, fruto do excelente arco da sua personagem, é impossível não carregar com ele o peso das suas decisões. Gaia Wise, que dá a voz a Hèra, como protagonista pedia-se não mais, mas igual relevância no captar de atenção do espectador. Fica apenas uma actuação competente refém de um arco unidimensional, sem conflitos interiores, da evolução de um herói. Pior na fotografia fica Luke Pasqualino, que empresta a voz a Wulf, o vilão de serviço. Nunca mais do que uma criança petulante em busca de vingança, Wulf peca por ser sempre inferior nas prioridades da história e carente de uma interpretação que o tornasse relevante, mas isso nunca acontece. Nas restantes personagens existe ainda o regresso de Miranda Otto, como narradora, e ainda dos hobbits mais comilões do Shire, Billy Boyd e Dominic Monaghan, em papéis surpreendentes e que trazem um tão desejado toque de comédia, ainda que por breves minutos. Sabe a pouco mas sabe bem. Nota final para o tema final de Paris Paloma, com uma sonoridade folk que fica no ouvido e no coração.
O regresso à Terra Média neste The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim não é o desejado por todos os fãs da saga iniciada por Peter Jackson mas é mais do que suficiente para merecer a sua atenção. Venham para a nostalgia, a arte anime inspirada e o desbravar de novas e infinitas possibilidades para o manancial de J. R. R. Tolkien.