The Life List (2025)

de Antony Sousa

E se um filme combinasse todos os clichês possíveis para uma comédia romântica, mais romântica do que cómica, usando uma fórmula já um pouco ultrapassada de reciclagem de vários filmes típicos de domingos à tarde, será que teria sucesso? Foi o que a Netflix quis confirmar ao distribuir The Life List na sua plataforma de streaming. O tempo falará por si, mas primeiro vamos conhecer melhor esta história.

Alexandra Rose (Sofia Carson) sente que a sua vida estagnou e se tornou alvo de julgamento dos familiares mais próximos. Contudo, esse estado de adormecimento mental sofre um enorme abanão quando a sua Mãe, Elizabeth (Connie Britton), a informa de que está com uma doença terminal. O seu ano vira 180 graus e uma lista de objectivos de vida, escrita quando Alex tinha 13 anos, reaparece para a aproximar da sua essência e aprender a lidar com o luto.

Podemos afirmar que os ingredientes para uma produção segura estão assegurados: protagonista incompreendida pelos que a rodeiam, mas facilmente relacionável connosco pela sua humana capacidade para dizer o que pensa em situações potencialmente constrangedoras, por ter boas intenções, ser no fundo muito talentosa apesar de desaproveitada e desacreditada, e por acreditar em amor verdadeiro. Trios românticos. Situações embaraçosas com elementos ridículos que puxam pelo riso. Um arco muito denunciado na história, que começa cheia de obstáculos em teoria inultrapassáveis para a figura central e gradualmente vai apresentando soluções como que por magia. Drama familiar nível novela. E uma pessoa que já partiu, a comandar as decisões de quem por cá anda desamparado. Confere, assim de repente, isto funciona, ainda que o tenhamos visto centenas de vezes só com outros nomes e outras circunstâncias ligeiramente diferentes… P.S. I Love You (2007), és tu? Já premimos a tecla da repetição e ausência total de originalidade, vamos agora seguir para a eficácia ou não do “mais do mesmo” aplicado nos mais de 120 minutos desta longa-metragem.

Algo feito com qualidade, mesmo que sem grande autenticidade, merece sempre créditos, porque afinal de contas fazer cinema competente não é uma garantia de todo, independentemente do orçamento. The Life List contém na sua lista de virtudes um selo de garantia de que o espectador vai receber o quentinho de um desenrolar dos acontecimentos escritos e pensados mais para a vontade íntima de quem torce pelas personagens do que pelo realismo global do enredo. Isso deixa muitos de nós satisfeitos no final, apesar de, lá no fundo, sabermos que não há nada mais “à filme” do que aquilo que acabámos de ver. A verdade é que traz conforto esta sensação de sermos nós a escolher o destino destas pessoas, privilegiando um mundo idílico onde tudo bate certo e acontece no tempo que nós determinamos. O elenco reflecte a banalidade do argumento, com performances suficientes para entregar o que é pedido sem que sobressaia uma performance que perdure no nosso memorial cinematográfico. A química entre Alex e Bradley (Kyle Allen) é sólida, ganhando pontos comparativamente com as outras relações românticas, familiares e amigáveis do filme, o que resgata algum interesse eventualmente perdido pela trama trivial.

A vida nem sempre é fácil, maioritariamente não é. Temos à partida isso em comum com grande parte dos habitantes humanos deste planeta, e por vezes são histórias previsíveis que nos relembram do que nos une. Também é importante haver espaço para conteúdo lamechas e na linha dos contos de fadas. No entanto, também é relevante realçar que produções como esta conseguem provocar em nós a curiosa sensação de que já vimos cada uma destas cenas antes, mesmo tendo a certeza de que nunca as vimos, de que temos um instinto espetacular pois prevemos cada passo seguinte de todas as personagens e até vários passos à frente, e simultaneamente que mal o filme chega ao fim a esperança média de vida da memória de o termos visto será bastante reduzida.

2.5/5
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