The Last Showgirl (2024)

de Diogo Carriço

The Last Showgirl, de Gia Coppola, acompanha Shelly (Pamela Anderson) quando é anunciado que o espetáculo no qual tem atuado nos últimos 30 anos vai encerrar dentro de semanas. Esta notícia leva Shelly a confrontar um futuro incerto sem o seu emprego de sonho. O filme trata de assuntos como a subvalorização das mulheres na indústria do espetáculo, que têm sido explorados de diversas maneiras no cinema, como no recente The Substance (A Substância, 2024), de Coralie Fargeat. No entanto, estes filmes só têm em comum as temáticas e o casting de atrizes que tiveram o seu auge há algumas décadas atrás e que, como as personagens que interpretam, foram descartadas pela indústria por já não serem consideradas bonitas e jovens conforme os padrões de beleza impostos pela sociedade.

No caso de The Last Showgirl o incidente que encerra a carreira de Shelly é a falta de público para o seu espetáculo, que era o último do seu género, mas esta temática de beleza também é retratada quando esta tenta entrar em outros espetáculos para públicos mais modernos. Shelly é vista como um porto seguro e uma guia para Mary-Anne (Brenda Song) e Jodie (Kiernan Shipka), duas dançarinas mais jovens do mesmo espetáculo, e a sua melhor amiga Annette (Jamie Lee Curtis); enquanto Hannah (Billie Lourd), a sua filha biológica, decide entrar em contacto e desenterrar ressentimentos sobre esta não ter sido uma mãe presente na sua infância. A narrativa, apesar de apresentar dinâmicas interessantes e tópicos extremamente relevantes, não lhes dá a atenção e desenvolvimento necessários. Assim, o espectador centra-se na personagem principal e nas suas questões internas. Isto não é de todo algo que torna o visionamento do filme dececionante, mas tira peso à narrativa repleta de personagens interessantes, e direciona-a para a personagem de Shelly.

As atuações são o destaque do filme, e isso deve-se ao casting, uma função na indústria cinematográfica que nunca é considerada com o devido respeito. Pamela Anderson, que foi durante décadas escolhida para personagens estereotipadas devido à sua designação de sex symbol, e Jamie Lee Curtis, que iniciou a sua carreira como um ícone de terror em Halloween (1978). Brenda Song e Kiernan Shipka, duas atrizes que atuam desde muito novas e que ainda não tiveram o reconhecimento que merecem, conhecem a indústria para a qual trabalham e que sempre as deixou de parte, e este conhecimento é o que exalta a atuação de cada uma. É de destacar, no entanto, o desempenho de Pamela Anderson e de Dave Bautista, que interpreta Eddie com uma delicadeza essencial.

A direção de Gia Coppola é desinspirada, está muito dependente do uso de câmara à mão e do visual de película em 16 milímetros, técnicas que remetem ao estilo documental e que trazem uma sensação de nostalgia e de idealização da realidade, mas, neste filme, não passam disso. Gia Coppola, ao tirar inspiração do cinema neorrealista, parece usar estas técnicas como o fim e não como o meio. Vemos o espaço para este tipo de cinema florir, mas não o filme a fazer por isso. Vemos as personagens em momentos introspetivos, mas não conseguimos ver o que estão a pensar. As personagens são bastante complexas mas estas técnicas, em vez de nos abrirem à complexidade das mesmas, deixam o espectador distante. A montagem também acrescenta a esta falha. Ao início, parece interessante observar as personagens a deambular, mas eventualmente perde o intuito e pesa na experiência. Fica apenas cansativo de ver.

Quando o filme termina, The Last Showgirl parece um estudo de personagem com boas atuações e uma direção de fotografia atraente, mas acaba por se depender demasiado nestes artifícios. As personagens secundárias não têm a atenção devida, apesar de terem o potencial de ser tanto ou mais interessantes que a personagem principal. Depois do seu visionamento podemos ficar emocionados com a jornada de Shelly, mas uns dias depois, o espectador só se vai lembrar dos momentos das personagens perdidas na realização e no guião, e a mensagem que quer passar perde a sua importância.

 

3/5
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