Gawain: I gave my word. I made a covenant.
Essel: This is how silly men perish.
Gawain: Or how brave men become great.
Essel: Why greatness? Why is goodness not enough?
Sir Gawain and the Green Knight é um clássico romance de cavalaria do século XIV, com um autor anónimo, que sobrevive num único manuscrito, persistindo na cultura através da intensidade dos seus temas de honra, virtude e misticismo entre o espaço das palavras. Nas mãos do realizador David Lowery, é como um machado criado de raízes e musgo, simultaneamente enlaçado ao ambiente enigmático da sua fonte de origem e liberto na posse de um artista consciente do seu desejo e imbatível na sua execução. Uma adaptação formosa que reforça o seu tom surreal e atribui uma qualidade intemporal à sua narrativa através de magia cinemática. The Green Knight é absolutamente, uma deslumbrante fábula visual.
Dev Patel interpreta Sir Gawain, sobrinho do Rei Arthur (Sean Harris) e filho da feiticeira Morgan Le Fay (Sarita Choudhury), um cavaleiro habituado a riquezas sem esforço, residindo num bordel com a sua amante Essel (Alicia Vikander) na manhã de Natal com diferentes expectativas acerca da sua chaminé. Consciente da sua ineptidão perante a corte e a pressão de um futuro promissor, Sir Gawain oferece-se para completar um jogo de Natal criado pelo mítico Cavaleiro Verde iniciando, assim, uma jornada até à Capela Verde, desafiado pelo destino e a sua própria pessoa.
No seu percurso físico, emocional e mental, depara-se com as virtudes de um cavaleiro, retratadas em criaturas amigáveis, habitações assombradas e uma raposa que guia o jovem numa atmosfera devastadora, à procura da sua honra. Um caminho composto por Lowery como uma cantiga cativante sobre o significado de heroísmo, honra performativa e o valor da vida de uma pessoa contra o tempo e a mortalidade, resultando numa das obras mais memoráveis do ano que desafia expectativas tradicionais deste género.
A mestria técnica deste realizador impressiona na construção cinemática deste íntimo épico medieval, elaborando uma montagem paciente que demanda a atenção do espectador com um pacing lento onde a tensão abundante pode ser cortada com um machado. O tempo é uma das figuras principais de The Green Knight, representado numa envolvente edição que combina passado, presente e futuro quando a personagem refresca-se em eternidade como se fosse um cálice de caos e na incrível direção de fotografia de Andrew Droz Palermo, com uma iluminação fantasmagórica, que emprega o uso de cor brilhantemente, formando um ambiente espectral que atormenta o seu herói em cada passo da sua viagem.
A sua imagem fantasiosa semelhante a pinturas lendárias é acompanhada pela banda sonora de Daniel Hart que persegue o protagonista com intensidade angustiante nos coros que enfeitiçam o castelo e embelezam as montanhas e na sua transformação moderna de instrumentos tradicionais. Esta musicalidade combinada com uma edição e mistura de som extraordinária, capturam uma aura intoxicante e atribuem diferentes significados ao silêncio, os sons da floresta e o peso das personagens, viajando entre o desconfortável e a serenidade em segundos. São elementos que rodeiam Sir Gawain de memórias constantes do propósito desta jornada e do seu trágico significado.
O seu orçamento de 15 milhões de dólares envergonham blockbusters de 200 milhões, com uma produção de efeitos visuais, matte paintings, guarda roupa detalhado, caracterização complexa e valores cinemáticos grandiosos.
Essa confiança na realização destemida de Lowery é espelhada num argumento com uma jornada determinada nos seus objetivos que abre a narrativa a diversas interpretações e possibilidades, flutuando paralelamente em ambiguidade e asserção. Os poucos diálogos misteriosos surgem como uma dança sobre posse de controlo e poder entre personagens, pontificados durante a estadia desconfortavelmente sensual e assombrosa no castelo de um Lord (Joel Edgerton), onde o cavaleiro escuta um monólogo hipnótico sobre a essência da cor verde e o seu significado no nosso mundo.
Dentro destas múltiplas passagens narrativas, o elenco maravilha com performances fenomenais, como Alicia Vikander que incorpora uma necessária emoção, lubricidade e autoridade nas cenas, ou a voz benevolente de Ralph Ineson que adiciona camadas a uma personagem de presença e som intimidante. No entanto, este enredo pertence ao excelente Dev Patel que insere uma vulnerabilidade e empatia a Gawain, impedindo este cavaleiro de atingir completamente o egoísmo do seu coração, com uma fisicalidade repleta de emoções complexas que relembram a sua alma de fábula.The Green Knight é uma desconstrução destas lendas, explorando o seu uso de valores, o seu núcleo, fundamento e o que separa estes contos da realidade. Lowery constrói um poema sinistro sobre o desejo de uma vida grandiosa perante a impotência do nosso maior assassino, o tempo. Somos como as crianças que testemunham o espetáculo de marionetas, a aguardar uma vénia final; conscientes da fragilidade dos fios da humanidade.