The Gray Man (2022)

de Guilherme Teixeira

Realizado por Joe e Anthony Russo, The Gray Man é uma boa prova que dinheiro não é tudo, pois esta produção, que contou com um orçamento de 200 milhões de dólares – tornando-se assim o filme mais caro da Netflix -, mostrou que não adianta ter muita pirotecnia se a história não estiver lá.

É um filme de ação com toques de suspense que conta a história de Court Gentry (Ryan Gosling), um agente da CIA conhecido por Six, que se vê perseguido por um autêntico lunático, Lloyd Hansen (Chris Evans), após ter descoberto segredos obscuros da agência. Sierra Six pertence a um programa da CIA onde ex-reclusos aceitam trabalhar para a agência mexendo-se na tal “zona cinzenta”, isto é, numa área onde a agência não poderia oficialmente atuar. Porém, durante uma das missões, Six descobre que um dos responsáveis da agência, Denny Carmichael (Regé-Jean Page), é na verdade um agente duplo responsável por vários atentados não autorizados. Resumindo, Carmichael contrata Lloyd para encontrar, exterminar e recuperar a informação que está a cargo de Six que, por sua vez, conta com a ajuda de Dani (Ana de Armas) que surge na história por azar do destino.

A história de The Gray Man, baseada no romance homónimo de Mark Greaney de 2009, é bastante superficial. O filme perde bastante tempo na fase do “gato e do rato” e esquece-se que para se fazer um bom filme de ação não basta ter a simpatia do público investida nos protagonistas, mas também é necessário que se tenha um sentimento muito forte pelos vilões – o clássico “amor/ódio”.

O problema é o filme ser bastante negligente com os seus protagonistas, apostando no carisma tanto do Ryan Gosling como da Ana de Armas o que, apesar de serem ambos excelentes atores e bastante carismáticos, a única coisa que conseguem é criar uma relação sem qualquer química e que parece não se desenvolver durante as mais de duas horas de filme, pois a narrativa sente uma incrível necessidade de mostrar a próxima cena de ação. 

Em relação aos vilões, é quase um esforço hercúleo para descrever o que o argumento faz, ou deixa de fazer com eles. Para começar, o principal interessado na missão, Denny Carmichael, tem uma participação quase nula no filme, obrigando o ator a parecer extremamente ameaçador nas poucas cenas em que está presente. Porém, a única coisa que consegue é parecer uma criança chateada porque lhe roubaram o brinquedo. Relativamente à personagem interpretada por Chris Evans, Lloyd, o mesmo se pode dizer, mas com a agravante que, assumindo o papel de antagonista, tem consideravelmente mais tempo e mesmo assim não consegue passar do caricaturesco.

A narrativa sofre também com a tremenda falta de sentido das situações, com demasiadas desculpas preguiçosas apenas para a conveniência do argumento  e também com o facto dos personagens não serem muito coerentes. Por exemplo, Lloyd afirma que a única forma de apanhar Six sem que ninguém saiba é através dos seus métodos pouco ortodoxos, para, não muito tempo depois, ordenar que equipas (com armamento de verdadeiros batalhões) façam um autêntico atentado no centro de Praga vitimando polícias e explodindo carros só para apanhar Six, que se encontra acorrentado a um banco de pedra. 

As cenas de ação têm o seu mérito de entretenimento, e estão no geral bem coreografadas, por isso podemos admitir que neste campo o filme até se sai relativamente bem – se conseguirmos ignorar todas as suas inconsistências, como um elétrico andar convenientemente com as portas abertas permitindo uma cena de perseguição com explosões e tiros; ou até quando duas pessoas saltam de um avião e nessa altura vemos dois bonecos insufláveis à porrada em queda livre. Talvez frisar a palavra “relativamente” seja essencial neste contexto.

No fundo, The Gray Man é um filme que entretém. Tem algumas cenas de ação interessantes, mas acaba por ser extremamente esquecível, pois, perante a falta de conteúdo, ainda sente a necessidade de recorrer a atalhos narrativos inexplicáveis, e isso já não satisfaz a audiência.

2/5
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