Amy Loughren (Jessica Chastain), enfermeira dedicada e que prima pela empatia com os seus pacientes, recebe a surpresa de que Charles Cullen (Eddie Redmayne) a vai acompanhar durante os turnos noturnos no hospital. A conexão entre ambos é imediata, por isso, a sua aparição revela-se agradável. Cullen partilha o seu jantar com ela no trabalho, é amável para as suas filhas e, além disso, a sua conduta enquanto enfermeiro é idêntica à de Amy.
Cullen é também misterioso e este seu caráter adensa à medida que o filme se desenrola. O novo enfermeiro vai até à casa de Jessica e cuida das suas filhas. Desabafa sobre o processo de divórcio e ajuda-a a enfrentar a doença que lhe foi diagnosticada, demonstrando-se prestável e comunicativo, o que o diferencia das pessoas com quem ela convive no trabalho.
Contudo, episódios inusitados arrebatam o espectador – mais pela falta de motivo aparente para acontecerem que pela sua ocorrência (o que representa uma falha no filme e o torna previsível). Estes episódios reconfiguram toda a relação dos enfermeiros, porém, esta transformação, apesar de ser sentida de forma extrema por Jessica, a sua brutalidade é vivida no seu íntimo. Enquanto em Charles, apesar das maçãs do rosto continuarem impenetráveis, os olhos vislumbram algo mais que o espectador anseia decifrar e não consegue ao certo: uma miscelânea de violência, apatia, rigidez, secretismo e tenacidade, mas também cuidado, respeito e ponderação o que para além de extremamente paradoxal é também macabro, dado o desfecho que nos é apresentado.
Apesar de The Good Nurse ser baseado numa história real e da previsibilidade do enredo aprofundar essa ligação, tornando-a um pouco mais óbvia, a performance de Eddie Redmayne é brilhante, angustiante e intrigante: tudo em simultâneo. O seu papel é o que nos prende ao filme, bem como o desempenho de Jessica Chastain.
Amy Loughren destaca-se pela resiliência e por uma certa ingenuidade que não lhe tira a razoabilidade ou a lucidez. Estas caraterísticas são-lhe inatas e agem em colaboração, incrivelmente. A sua resiliência destrói-a lentamente, mas no final do filme percebe que necessitou e irá necessitar dela sempre. Charles Cullen tem como caraterística primordial a serenidade, cuja prevalência até à sua catarse nos assusta, aliás, até o próprio clímax é atemorizante, pois se trata de um ‘’pseudo-clímax’’: a sua rigidez emocional atribui-lhe a obrigatoriedade de um controlo que, mesmo culminando em gritos permanentes e estridentes, não é revelador de si.
The Good Nurse deixa o susto pela metade, pois as revelações que a enfermeira teve relativamente a si mesma após viver esta experiência não são finitas e o descortino da personagem Cullen nem pela metade se deu.