Mesmo antes de Chris Hemsworth explodir na esfera pública com o seu Thor, o actor australiano integrava o elenco de um filme de terror que engana à primeira vista, e compensa quem usa a virtude da paciência para ultrapassar essa assumpção inicial e chegar ao epílogo épico.
Um grupo de amigos faz as malas para umas férias numa cabana no meio de nada, e aquilo que pretendia ser um fim de semana de festa e diversão, transforma-se num espetáculo de variedades sobrenatural em que os espectadores são os donos dos acontecimentos.
Desde o início que nos é dado a perceber que algum tipo de experiência pouco ética estará em curso, e que envolverá os cinco amigos sem o seu conhecimento nem consentimento. O que aprendemos com o decorrer do filme, é que qualquer clichê encontrado não é pura coincidência. A sátira ao género de terror está bem presente, e quanto mais se pensa nisso mais pormenores saltam à vista numa segunda análise. É uma história consciente dos seus estereótipos, e sério na exploração do absurdo numa comum história de massacre nos bosques, no meio de nenhures. Mas o que faz The Cabin in the Woods resultar verdadeiramente, é o facto de não ser exagerado na sátira como um Scary Movie (2000), o que faz com que ainda haja uma parte de nós que até certo ponto duvide se o filme é só mau ou se roça o genial, e ainda por cima consegue efectivamente pregar um susto aqui e ali, deixando-nos parvos por estarmos a torcer por personagens que são propositadamente bidimensionais e tomam más decisões.
Até que aterramos no clímax do filme, o seu último acto! Uma discussão entre o caos e a carnificina. Uma revolução dos pesadelos humanos numa amálgama de gore místico que nos faz entrar noutra dimensão. É o inferno na Terra com direito a pipocas ao nosso gosto. É o potencial do lado macabro da imaginação humana a ser esticado ao máximo em pouco tempo. Cerca de 20 minutos de fim do mundo em fio dental capazes de entreter até um morto-vivo, desde que não seja sensível a sangue, o que parece pouco provável para um morto-vivo… Se bem que poderia ser uma premissa curiosa para outra sátira. Vou ver se arranjo o contacto do Drew Goddard (sim, o mesmo que escreveu a série Daredevil (2015-2018)) realizador, e um dos argumentistas desta longa-metragem para lhe passar a ideia.
Dito isto é assistir The Cabin in the Woods se estiverem no mood de se divertirem em vez de se aborrecerem com a estupidez perpétua das personagens em filmes de terror. Dá para rir, dá para mexer aqui e ali com jumpscares, e dá para ficar a tentar adivinhar o que vai acontecer no fim, ou no mínimo qual será o fim de certos indivíduos.