Um rapaz perdido na neve, uma toupeira, uma raposa e um cavalo, juntam-se à mesma caminhada, cada um na sua deixa. Explicar a premissa desta preciosa curta-metragem de animação, que tem origem no livro homónimo escrito por Charlie Mackesy, torna-se redundante, porque não é a ideia do enredo que torna este um filme “obrigatório”, mas sim aquilo que transmite. E isso só pode ser sentido, e só pode ser sentido se for visto. Tentarei de seguida o meu melhor em reproduzir as razões para esta introdução. Desejem-me boa sorte!
O mundo, e mesmo o mundo da animação, vive por estes dias com os decibéis nos píncaros, com estímulos visuais a cada segundo para prender a nossa atenção, naquele desespero de nos poder perder para o telemóvel por via do aborrecimento a qualquer momento. Sabe tão, mas tão bem ver algo que toma o seu tempo para dizer o que quer dizer, da forma que quer dizer, que nos abraça de olhos fechados sem pedir nada em troca.
Amor, amizade, orgulho, medo, solidão, gratidão, são tudo sentimentos e emoções que nos aproximam da nossa essência humana. Todos passamos por estas sensações, todos nos sentimos amados e rejeitados a certo ponto, gratos e revoltados, assustados e corajosos, sós e em família, e quando vemos isso representado com a beleza estética, a interpretação, mas sobretudo com a sapiência literária que temos oportunidade de ouvir em The Boy, the Mole, the Fox and the Horse, só nos ocorre que está nas nossas mãos e acções, sermos a mudança que queremos ver na sociedade.
Os pequenos gestos levam a grandes passos em direcção à compreensão. E no fundo é o que qualquer ser quer do próximo, ser compreendido. É isso que procuramos em cada filme, alguém que nos compreenda e nos represente no ecrã. Acredito que muita gente se sentirá representada no rapaz, ou na toupeira, ou na raposa, ou no cavalo, ou em todos, porque somos mais parecidos uns com os outros do que aquilo que imaginamos. Se ao menos tivéssemos isso mais presente nas nossas vidas, poderíamos então comandar os nossos dias com tolerância e bondade, e poderíamos ser mais felizes por contribuir para a felicidade dos outros.
É provável que esta não seja a crítica cinematográfica que estavam à espera, mas é a opinião que eu preciso de dar para ter a consciência tranquila de que tudo fiz para deixar claro que esta não é só mais uma história. Num registo mais pessoal, posso adiantar que vi este filme uma segunda vez com a minha sobrinha de 4 anos (“quase 5 tio!!!”, diria ela), e apesar da profundidade de todas as mensagens do texto sugerir outras idades menos tenras para apreciarem devidamente esta obra – e de ter sido vista comigo a dobrar todas as falas em português na hora – quando chegaram os créditos finais, ela abraçou-me, fez-me um cafuné seguido de sons demasiado fofos para conseguir transportar em palavras, e simplesmente disse “quando for grande quero ser boa pessoa tio”.
Vejam, e perceberão.