Amelia (Essie Davis) perdeu o marido num acidente no dia em que deu à luz a Samuel (Noah Wiseman). Desde então, os aniversários do rapaz são sempre celebrados noutra data, porque o trauma nunca foi ultrapassado. Enquanto luta por lidar com todos estes sentimentos contraditórios, ela e o seu filho encontram um livro que os irá assombrar e levar aos limites da paranóia.
A escola de filmes de terror do século XX, criou alguns dos momentos mais assustadores das nossas memórias, e todos eles sem recurso a grandes malabarismos tecnológicos, apenas com efeitos práticos, fugindo a imagens geradas por computador. The Babadook apesar de ser de 2014 e de conter CGI, tem influências fortes do género de terror mais antigo. A edição e a fotografia são aliadas na busca do arrepio provocado em nós. Jennifer Kent, realizou e escreveu aqui a sua primeira longa-metragem, e desde então trouxe também The Nightingale (2018), e o episódio 8 da série Guillermo Del Toro’s Cabinet of Curiosities (2022), o que quer dizer que é um nome a seguir com muita atenção para os fãs da arte do susto e do medo.
Já quando escrevi a crítica do filme Smile (2022), referi que existia um certo preconceito com uma performance num filme de terror, sendo por isso extremamente raras as nomeações a prémios prestigiosos de actores que entrem numa produção do género. Nos últimos anos vários têm sido os casos que desafiam fortemente esse preconceito, e Essie Davis é um perfeito exemplo disso mesmo. É extraordinária a capacidade de manipular as nossas emoções em relação à sua personagem. Desde a total empatia, simpatia, ou pena, passamos a temer por ela, a duvidar da sua sanidade, até a temermos puramente. Nada há de forçado mesmo quando a cena pede maior extravagância, Essie vai até ao ponto que tem que ir para nos fazer sentir o que a história precisa, e volta ao seu estado normal, com uma absoluta e admirável credibilidade. Noah Wiseman, por sua vez, confirma o sucesso do seu trabalho quando nos consegue irritar no primeiro acto, preocupar no segundo e por fim, partir-nos o coração na reta final. Ainda que no registo em que estamos a falar, uma história com ligações humanas sentimentais fortes terá sempre mais argumentos para perdurar nas nossas memórias.
O enredo é simples e directo, não há aqui um mirabolante desfecho, ou uma mudança nunca antes vista, nem precisa de nada disso. Grandes filmes do passado dentro do universo de terror não nos dão todas as respostas no fim, nem tentam explicar grande coisa. Fazem questão de nos conectar de uma maneira ou de outra com as vítimas, fazem-nos querer ter a luz acesa durante toda a noite até termos a certeza de que a entidade que vimos no ecrã não salta para a nossa realidade, algures ali entre debaixo da nossa cama e um corredor escuro, e deixam-nos desconfortáveis a certo ponto. The Babadook alcança tudo isso.
É de facto um filme que vive muito da cumplicidade entre mãe e filho e por cima disso, da excelência da atuação de Essie Davis. E nesse sentido o Babadook vive, bem fora do seu livro, porque o pesadelo sem fim à vista destes dois é tão palpável que parece que estamos nós a ter um pesadelo. A forma gradual como a sombra cresce, a música crepita dentro de nós, o medo nos fala, e os arrepios se sentem, é produto de um trabalho muito bem conseguido e que merece residir na estante dos sólidos bons filmes de terror que a década de 2010 produziu.
2 comentários
[…] e que ajudam a demarcar este filme de outros que temos visto nos últimos anos como The Babadook (2014), Tully (2018) ou pelo menos outros dois filmes presentes na Berlinale onde o filme compete. Mary […]
[…] Boogeyman tem ideais e intenções boas. É inspirado em filmes excelentes como The Babadook (2014) e Halloween (2018), no sentido em que existe um protagonismo feminino e o antagonista […]