The Assessment (2024)

de Diogo Carriço

Num futuro não muito distante, o controlo de população é levado ao extremo devido à escassez de recursos naturais e às novas características austeras do planeta terra. É através de uma avaliação que as qualidades parentais de certos casais são testadas para garantir o sucesso e desenvolvimento de uma nova geração, e assim, da sociedade. Nesta longa-metragem, a primeira da realizadora francesa Fleur Fortuné, seguimos Mia (Elizabeth Olsen) e Aaryan (Himesh Patel) enquanto, num período de sete dias, são avaliados por Virginia (Alicia Vikander), com a esperança de criar uma família. Este processo mostra-se cada vez mais rigoroso e vai testando o psicológico das personagens principais, ignorando quaisquer questões éticas, com o intuito de mostrar o pior de cada um. The Assessment (A Avaliação) é um estudo de personagem e paternidade, num mundo não muito diferente do nosso, e que não parece assim tão distante e improvável. Fleur Fortuné mostra-se capaz de criar duas horas de tensão de maneira cativante e artística, levando sempre a narrativa por caminhos inesperados.

O que salta primeiramente à atenção é a estética singular. O contraste do mundo rochoso e seco com a arquitetura brutalista adornada por cor nas suas decorações, é uma ótima representação do mundo que o filme constrói. Fortuné tira proveito de cada canto e de cada espaço onde decorre a narrativa, imergindo o espectador neste ambiente que parece forçar hospitalidade. Fortuné traz das suas experiências passadas como realizadora de videoclipes uma percepção de ritmo e de liberdade com a câmara que vemos frequentemente nesse formato, e que, por vezes, parece que não é abordado no cinema por não ser levado a sério como um meio artístico.

Ao mesmo nível de qualidade que a direção de arte e realização, ou até mesmo superior, estão as atuações. Os três atores principais, Elizabeth Olsen, Himesh Patel e Alicia Vikander, já são experientes mas não deixam de surpreender. Elizabeth Olsen atua de uma maneira tão singular como podemos ver em projetos passados como His Three Daughters (As Três Filhas, 2023). Himesh Patel traz uma atuação mais subtil mas bastante eficaz, percebendo cada recanto da sua personagem e interpretando-a com uma ambiguidade que a torna ainda mais interessante. Alicia Vikander é quem interpreta a personagem mais peculiar, saltando entre o realismo e a caricatura, e por vezes misturando ambos.

A direção de fotografia e iluminação são também de destacar, assim como a montagem que traz com cada corte um sentimento de satisfação visual. O ponto menos forte é a construção do mundo distópico. A longa foca-se bastante na avaliação mas quando sai desse tema para abordar o mundo exterior parece que perde um pouco o rumo, passando para mais uma história sobre uma sociedade distópica após uma crise ambiental, como qualquer outra do mesmo género. O filme começa por contextualizar o espectador através de diálogos, sem ser maçante ou sem expor demasiada informação, mas mesmo assim acha necessário mostrar o mundo e as personagens nele. The Assessment funcionava melhor sem essa exploração. As paisagens, a arquitetura singular, as relações peculiares entre as três personagens principais, e a descrição deste mundo já cativam o espectador, e é isto que o destaca de outros filmes com temas semelhantes.

É surpreendente esta ser uma estreia da realizadora no formato de longa-metragem, mas os anos de experiência na indústria, mesmo que em outros meios, trazem uma abordagem concisa e individual ao filme. Todas as peças encaixam na perfeição e é bastante refrescante ver um filme distópico com uma abordagem tão artística, que não se centra em como a sociedade falhou e como se teve de adaptar para sobreviver ao novo mundo. The Assessment mostra como a abordagem é que importa e não os temas em si. É a individualidade dos autores que dá personalidade ao filme e este tem uma intrigante e singular perspetiva.

4/5
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