“Tell me something I can hold on to forever and never let go.”
Com o reconhecimento da produção independente Celeste and Jesse Forever (Celeste e Jesse para Sempre, 2012), Lee Toland Krieger decidiu dar um passo mais ambicioso na sua carreira com The Age of Adaline (A Idade de Adaline), uma narrativa que se estende por diferentes décadas. Não obstante os dois filmes se enquadrarem em géneros distintos, ambos espelham temas inerentes à sua cinematografia: a complexidade e a ambiguidade das emoções e das relações humanas.
The Age of Adaline concentra-se na ação de Adaline Bowman (Blake Lively), uma mulher que nasceu na viragem do século XX e que tinha uma vida normal até sofrer um grave acidente de carro combinado com um raro fenómeno natural. Desde então parou milagrosamente de envelhecer, eternizando a sua aparência de vinte e nove anos. Consequentemente, Adaline vê-se obrigada a levar uma vida solitária e a assumir diferentes identidades, esquivando-se de relações próximas, a fim de manter a sua condição em segredo. Contudo, a situação sai do seu controlo quando Adaline se apaixona inesperadamente pelo filantropo Ellis Jones (Michiel Huisman), que possui uma relação próxima com o seu passado, mas desconhecida por ambos.
Embora o desafio às normas do envelhecimento já tenha sido um tema explorado anteriormente no cinema, nomeadamente em The Curious Case Of Benjamin Button (O Estranho Caso de Benjamin Button, 2008), de David Fincher, The Age of Adaline oferece uma perspetiva com um potencial intrigante, refletindo sobre a passagem do tempo e os inerentes dilemas éticos e emocionais. No entanto, o resultado parece assentar num melodrama superficial que não aprofunda os temas a que se propõe.
De facto, a exploração mais profunda destas implicações associadas à imortalidade exigiria ser sempre acompanhada de personagens desenvolvidas, aspeto que não se destaca como uma das mais-valias do filme. As personagens, incluindo a própria protagonista, nem sempre apresentam uma complexidade que se aproxime da nossa realidade, sendo que as suas emoções e motivações poderiam ser, por vezes, abordadas de forma mais robusta.
Neste seguimento, as atuações, de forma geral, falham em capturar a profundidade emocional expectável para acompanhar a mensagem da narrativa. Blake Lively, embora sofisticada e carismática (e até mesmo com uma atuação aclamada por alguns), peca por não conseguir dar vida a uma personagem que deveria carregar às costas o peso de mais de um século de experiência. Em contrapartida, a sua atuação é fria e distante – o que pode ser uma escolha deliberada, a fim de refletir a natureza da personagem -, contudo, acaba por alienar o público. Harrison Ford (que interpreta William Jones), por outro lado, é um dos poucos destaques nas atuações. Mesmo com uma aparição temporalmente reduzida, é capaz de infundir, com sucesso, algum calor emocional num filme que, na maioria do tempo, não passa de morno.
A direção de Krieger é visualmente agradável, com uma cinematografia polida e de cores suaves, a par de uma trilha sonora apropriada, capaz de espelhar a atmosfera emocional e nostálgica da história. Por outro lado, o filme estende-se no tempo: muitas cenas são desnecessariamente longas, como se o realizador priorizasse exibir a beleza da produção ao invés de contar a estória. Adicionalmente, o filme parece oscilar entre géneros díspares, mas sem se comprometer totalmente a um deles, como o drama histórico, a fantasia e, uma vez que verga pelo caminho convencional do romance, a trama torna-se previsível, fator esse que diminui o impacto da narrativa.
The Age of Adaline é um filme que fica aquém das expectativas e que é recordado pelo público apenas pela sua abordagem singela da temática da imortalidade. É esteticamente apelativo e possui uma premissa intrigante, mas falha em entregar algo verdadeiramente memorável que vá para além do seu eventual potencial. É um filme que facilmente agrada aos olhos, mas dificilmente ao coração.