Realizado por Jon S. Baird, Tetris conta a inacreditável história do licenciamento deste jogo que viria a tornar-se num dos mais populares de todos os tempos.
Depois de descobrir o jogo numa conferência, Henk Rogers (Taron Egerton) fica obcecado e arrisca tudo quando viaja para a União Soviética para juntar forças com o criador, Alexey Pajitnov (Nikita Efremov), de forma a conseguir o licenciamento e assim levar o jogo para o resto do mundo.
O realizador faz um bom trabalho a ditar um tom que balança entre o entretenimento e o thriller, muito através de um argumento dinâmico e também devido ao humor e às atuações que levam o filme a uma velocidade que não deixa a audiência respirar. Porém, em momento algum deixamos de ter a noção do quão arriscado foi a jogada de Henk Rogers ao tentar trazer Tetris para este lado da cortina de ferro.
O filme opta por um estilo interessante que usa bastante o semblante do jogo, nomeadamente a música e a própria imagem, para estabelecer certas mudanças de espaços, como por exemplo, quando Henk viaja de Tóquio para os EUA para conhecer a equipa da Nintendo, criar momentos de tensão, ou para disfarçar alguns voice-overs.
O problema em Tetris reside quando o filme toma algumas liberdades criativas em nome do entretenimento, (dando direito a um momento Argo (2012)), e também quando abandona o tema e a tensão em torno do licenciamento e tenta explorar a burocracia da URSS e toda a dinâmica dentro deste país. O que dá a entender, pelo menos até perto dos créditos finais, é que a única personagem soviética com alguma nuance é Alexey. As restantes parecem demasiado caricatas para serem levadas a sério. Para ser justo, o filme atribui o mesmo tratamento aos rivais americanos de Henk, que também procuravam conseguir o licenciamento deste jogo, usando o cliché do filho do bilionário ingénuo, Kevin Maxwell (Anthony Boyle), e do big boss, Robert Maxwell (Roger Allam), por detrás de toda a podridão do sistema capitalista. De alguma forma, estas simplificações não foram o suficiente para destronar o filme, devido ao tom estabelecido cedo nesta longa-metragem com sucesso e também devido à maravilhosa atuação de Taron Egerton, que entrega tudo aquilo que o filme necessita.
Tetris é um filme bastante divertido, com momentos engraçados e outros com uma carga de tensão imprópria para cardíacos. A montagem dinâmica torna o tema menos massudo e deixa a audiência sempre à espera do próximo passo, não só dos nossos heróis como dos antagonistas. O único porém é quando o argumento deixa de se focar na questão dos interesses em volta do licenciamento do jogo para virar a sua atenção em direção da rivalidade Capitalismo vs Comunismo, caindo, assim, na caricatura.