Sweethearts apresenta-nos Jamie (Kierna Shipka) e Ben (Nico Hiraga), dois caloiros que decidem terminar os seus respetivos relacionamentos amorosos na véspera do Dia de Ação de Graças, altura em que regressam à sua cidade natal. É aí, em Ohio, que procuram por Claire (Ava DeMary), namorada de Ben, e Simon (Charlie Hall), namorado de Jamie, ainda alunos do ensino secundário, para finalmente colocarem um fim às suas relações e começarem a experienciar tudo o que a vida universitária tem para oferecer. Mas o pacto que traçaram não corre como planeado, o que leva a uma noite caótica que coloca à prova a amizade que Ben e Jamie construíram ao longo dos anos.
A comédia romântica em questão é também uma história coming-of-age. O primeiro regresso a nossa casa após os primeiros meses na faculdade representa, na maioria das vezes, um confronto com uma realidade com a qual já não nos identificamos mais. Constitui um reconhecimento de um certo amadurecimento que ocorreu na transição do ensino secundário para o ensino superior. Porém, a intriga do filme não faz propriamente jus ao género, pois a maioria das personagens mais parece que frequentam o 3º ciclo de escolaridade invés do liceu ou da academia.
A maioria dos diálogos são pobres e não representam minimamente as conversas características desta geração. São antes estereotipados num sentido pejorativo, ridículo. As cenas procuram forçosamente a piada, mas raramente a conseguem alcançar, oscilando entre a parvoíce e até mesmo o cringe.
A premissa da narrativa é naturalmente boa para o desenvolvimento de uma romcom, mas neste caso é apenas sustentada pelas prestações de Kierna Shipka – célebre pela sua performance na série Chilling Adventures of Sabrina (2018), cancelada pela Netflix em 2020 – e Nico Hiranga que estoicamente lá conseguem fazer o seu melhor: o melhor que é possível fazer com um mau guião.
O propósito de entreter a audiência não é de todo menor, muito pelo contrário, mas Sweethearts apenas cumpre esse propósito momentaneamente. São principalmente os momentos protagonizados por Palmer (Caleb Hearon) – o amigo gay de Jamie e Ben, que finalmente assume a sua orientação sexual na comunidade, na véspera do Dia de Ação de Graças, quando retorna do seu ano sabático em França a trabalhar na Euro Disney – que ainda conseguem fazer rir o espectador. Neste sentido, o filme apresenta-nos também a história desta personagem, que, aliás, compreende um segundo ato, parecendo pertencer a outro enredo completamente diferente, mais sério sobretudo pela maturidade de Palmer, vinda de um universo distante daquele que as demais personagens habitam.
O questionamento implícito de outros assuntos, além do principal fio condutor do filme, fica-se apenas pelo questionamento em si, pois os temas são lançados ao ar e ficam sem resposta. Perguntas como “Estarei apaixonada/a pelo/a meu/minha melhor amiga/o?”, “O término de uma relação à distância que persiste desde o ensino secundário vem do reconhecimento sincero de que já não estou apaixonada/o ou porque quero aproveitar a vida universitária, visto que não tenho o/a meu/minha namorado/a por perto?”, “Não dá para aproveitar a vida universitária tendo namorado/a?”, pairam no ar, mas são apenas névoa, infelizmente. Sweethearts é o tipo de filme no qual seria perfeitamente passível explorar estas questões. Contudo, Jordan Weiss, a realizadora, prefere dispersar, criando uma história, no fundo, incoerente e ambígua.
O título que dá nome à história nada tem a ver com a mesma: parece ter sido retirado de uma nuvem de palavras que mostra os principais vocábulos que surgem nas obras de Colleen Hoover. A superficialidade dos namoros dos protagonistas não justifica tanta ‘acrobacia’, tanta inquietação por parte de Ben e Jamie. Acaba por andar constantemente às voltas sem chegar exatamente a lado nenhum, a não ser no final. Mas, mesmo assim os meios empregues não chegam a justificar os fins – neste caso, o fim. O mote do filme, como referido, é bom, mas o seu desenrolar é deprimente, um verdadeiro descalabro, ainda que o desfecho possa surpreender um pouco por ser inesperado.
Sweethearts tinha potencial para ser uma boa peça de entretenimento, mas raramente consegue entreter quem quer que seja.