Suzume (2022)

de Pedro Ginja

Makoto Shinkai não é um estranho no universo da animação. A razão para isso ele próprio admitiu na conferência de imprensa de Suzume na 73ª Edição da Berlinale – “A animação permite chegar a uma audiência muito maior especialmente em temas sensíveis”. É por essa razão que continua a trabalhar neste meio desde 1999, e sem grande vontade de mudar. Aos já clássicos, Kimi no na wa. (2016) e Tenki no ko (2019) – Your Name (2016) e Weathering with You (2019) respectivamente, chega agora a sua proposta mais ambiciosa, em termos visuais, de nome Suzume.

Suzume é uma rapariga a caminho da escola que se cruza com um estranho. Este procura uma porta, perto de um local abandonado das redondezas. A porta não é mais que um portal de onde grandes desastres se materializam no mundo real. Suzume é agora parte da solução e não vai parar até o seu mundo estar em segurança.

A palavra-chave aqui é desastre. Este termo não é relativo à qualidade deste filme mas sim à resposta de Makoto Shinkai a um desastre real que correu o mundo, o tsunami de 2011 e o desastre de Fukushima, responsável por milhares de mortos e com consequências gravíssimas no meio ambiente. O luto é parte integrante da história desde os primeiros minutos em que vemos as consequências pessoais para Suzume neste mundo. Toda a sua viagem neste universo alternativo, criado por Makoto Shinkai, tem por objectivo resolver esse momento no tempo que mudou a sua percepção da vida.

Com a base da história bem estabelecida, Makoto sabe que o entretenimento é um ponto muito importante nas suas narrativas e é aqui que a sua maestria se revela. Não há tempo para respirar neste argumento que pulula entre acção e reação sem nos dar tempo para respirar. Está sempre algo a acontecer no ecrã e o sentimento é de um fascínio puro. Visualmente é deslumbrante, até ao expoente máximo, e merece ser visto no maior ecrã disponível ao qual tenham acesso – De preferência uma sala IMAX. Será uma pena ver este filme num telemóvel mas se for o caso mais vale aí do que perder esta maravilha da animação (ainda mais se já forem fãs de Makoto Shinkai). Existem outros factores que tornam o filme irresistível como as personagens marcantes e únicas (são demasiado kawaii) e o talento na interpretação das vozes do filme que o carregam com um charme difícil de negar. A própria cultura e o humor japonês, tão característicos do cinema desse país, pode afastar alguns mas as súbitas e constantes inflexões nas vozes e a teatralidade das expressões, tão características do género de anime, tornam Suzume ainda mais impossível de resistir. Apesar deste overload de cultura e de mitologia japonesa vejo paralelos com as lendas e histórias da antiga Grécia. Mais particularmente com a caixa de Pandora no qual cabem todos os sentimentos do mundo mas que se aberta todos os males serão libertados. Uma comparação óbvia com a importância da terapia e do libertar dos nossos “demónios”. Muitas outras relações com outras lendas poderiam ser estabelecidas o que revela a universalidade das histórias de Makoto Shinkai muito para além da sua cultura japonesa, tal como Miyazaki tão bem fez antes dele.

Suzume promete um espectáculo e cumpre com distinção mas desengane-se quem pensa que os sentimentos e as mensagens profundas, por detrás da beleza, não estão presentes. Makoto Shinkai traz-nos, mais um, excelente filme e confirma-se como digno sucessor de Hayao Miyazaki no panteão da animação japonesa.

4/5
0 comentário
2

Related News

Deixa Um Comentário