Estreia nacional no dia 25 de Maio às 18h30 no Cinema São Jorge – Sala Manoel de Oliveira, incluída no Festival IndieLisboa 2024 – secção Indie Music.
“Talvez isto seja discutível mas eu penso que a natureza da arte é experimental.”
Esta será uma temática “estrangeira” a muitos dos que lêem esta crítica, eu incluído. Algo que todos poderemos ter uma ideia do que é, por associação, mas da qual temos pouco conhecimento. As definições possíveis são infinitas pois o próprio conceito de experimentação também o é. Neste documentário ouvem-se algumas hipóteses como, por exemplo, um espaço de descoberta, de correr riscos ou de saltar para o desconhecido sem saber o que encontrar. Chegam mesmo, alguns, a considerar que o que fazem não é experimental mas tão e somente música. Mais do que respostas concretas procura-se descobrir o que move estas pessoas a criar arte. Este é Sur La Stre Nuro – Na Corda Bamba: Diálogos sobre o Experimentalismo Sonoro em Portugal, a mais recente longa-metragem de Luís Fernandes.
Luís Fernandes não é estranho a este universo, tanto do cinema como da música experimental tendo já produzido e realizado diversos documentários nos quais aborda as suas mais diversas paixões em diferentes espectros da arte, em projectos multidisciplinares que transcendem uma definição concreta. Os prémios e as menções honrosas nos festivais provam a sua qualidade em transpor essa paixão para a tela do cinema e, com este seu mais recente filme, procura promover um diálogo sobre o experimentalismo sonoro em Portugal na forma de um documentário. Trata-se de uma narrativa centrada nos processos artísticos e conceptuais usados pelos mais importantes e relevantes artistas do panorama da música experimental em Portugal da actualidade.
Mais do que saber a história pessoal e o percurso profissional de cada um dos entrevistados, Sur La Stre Nuro – Na Corda Bamba procura transportar-nos, antes, para o seu mundo imaginário e as metodologias que cada um usa na sua criação artística. Seria muito fácil cair na armadilha, tal a subjectividade do tema em questão, de complicar o que aqui sempre parece simples. Luís Fernandes consegue aqui abrir o apetite e as possibilidades de um tema de nicho muito reduzido e torna-lo acessível para um grande público. Sendo eu um leigo na matéria em questão, não foi complicado ligar-me ao aspecto artístico de algo que, à primeira vista, parece inacessível ao comum dos mortais. Consegue-o com uma edição e design sonoro pouco usual nos documentários produzidos em Portugal, para assinalar a diversidade dos mundos artísticos retratados e através de uma inteligente selecção de artistas da área, que nem sempre concordam sobre o que fazem ou os rótulos que lhe atribuem como músicos experimentais, mas cujas opiniões parecem relevantes, num mundo que cada vez mais procura a arte descartável e fácil de consumir. Como diz Sofia Mestre, uma das entrevistadas, “Eu crio sempre paisagens na minha cabeça, mas são todas elas paisagens emocionais muito mais do que descritivas” e neste sentimento revela a própria essência de qualquer artista: criar uma relação emocional com os outros. E saber que há gente com a irreverência de Vítor Rua e o desejo de expandir o universo do que é considerado arte como o duo Von Calhau!, é razão mais do que suficiente para passar estes 85 minutos com a nata da música experimental portuguesa.
Goste-se ou não do que se ouve, este é um documentário fundamental para conhecer o panorama da música experimental em Portugal e dos seus protagonistas. Tal como a arte que reverencia, só pede ao espectador a abertura de se deixar levar para um mundo desconhecido e abrir os seus horizontes pessoais. Relembro a citação “Ars longa vita brevis”, aparentemente contraditória face a um filme que revela a efemeridade de um momento irrepetível no tempo como arte, mas que professa o mesmo desejo, a sua imortalização. Essencial, por isso, para os verdadeiros amantes de arte.