Super Natural (2023)

de Rita Sousa

Esqueçam tudo o que viram até agora e preparem-se para uma experiência capaz de transcender a tela do cinema. Tudo é um corpo; um ambiente com conexões a acontecer à nossa volta. Super Natural, a primeira longa-metragem do realizador português Jorge Jácome, é tudo isto e muito mais. O filme é uma viagem ao mundo sensorial e ao contacto com outros seres humanos e com elementos do mundo natural. Aqui, o espectador é energia vital e sem ele a obra não acontece.

Após uma sequência inicial preenchida por um vazio visual, com apenas cores vibrantes a encherem o nosso olhar, entramos num mundo de estímulos sensoriais que satisfazem as nossas necessidades. É quase como se estivéssemos numa sessão de meditação guiada, onde as cores se vão alternando e nós, sempre com uma estranha calma, entramos, aos poucos, no ambiente do filme. Assim que abrimos a porta para este novo mundo, uma multiplicidade de linguagens começa a acontecer. Um ambiente repleto de cores, sons, espaços. E é aí que o espectador, enquanto público em sala, se emancipa e começa a sentir uma ligação inexplicável à experiência que está prestes a viver.

De seguida, algo começa a contactar connosco. Uma voz não humana que está sempre presente e que nos mantém numa linha dupla. Por um lado, é uma linguagem que funciona quase como um auxiliar do espectador e que o avisa que está numa sala de cinema a assistir a um filme, intercalando, diversas vezes, avisos do género: “Estás aí?”. Por outro, um amigo que nos leva de mãos dadas numa viagem por um mundo de possibilidades.

Super Natural é um trabalho colaborativo entre as companhias: Dançando com a Diferença e Teatro Praga, em parceria com o realizador português. A história foi filmada na Madeira, nas magnificas paisagens da ilha do Funchal. Ao longo de cerca de uma hora e meia, acompanhamos vários bailarinos que exploram uma ilimitada possibilidade de movimentos, sempre enquadrados no espaço envolvente.

O filme é uma constante experimentação visual. São utilizados diversos formatos, desde histórias de Instagram até Super 8. É o cinema a vivenciar vários corpos. E, se facilmente isto poderia criar uma grande confusão visual, aqui, e graças ao brilhante trabalho de Marta Simões, enquanto diretora de fotografia, e de Jorge Jácome, na montagem, tudo se une de forma brilhante. É possível perceber uma sensação de harmonia nas variações de formatos que se aproximam da realidade da nossa vida.

Também a banda sonora é fundamental à história. Desde a música, ao som da natureza, tudo flui de forma harmoniosa que permite criar ambientes mágicos e separar os diferentes momentos do filme.

Super Natural é um convite cinematográfico a uma nova experiência visual. É um filme de sensações que permite ao espectador viver o cinema de uma forma única. É uma viagem ao corpo e ao lado imaterial do mundo que é capaz de criar com o público uma conexão totalmente verdadeira e única.

4.5/5
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