Summer of 69 (2025)

de Patrícia Fonseca

Summer of 69 tem um objetivo claro, aproveitar o reconhecimento e notoriedade associado à famosa música de Bryan Adams para conseguir fazer com que mais vítimas do “O que é que vou ver durante o jantar?” acabem por o escolher na esperança de terem uma refeição cheia de hidratos e entretenimento nostálgico.

No entanto, o primeiro filme realizado pela comediante Jillian Bell não se passa nos anos 60 e não tem qualquer nuance relativa à letra da canção homónima, neste caso, o verão de 69 refere se muito literalmente à incursão de uma jovem na descoberta da sua sexualidade, com foco especifico nesta posição sexual.

A ideia de adolescentes quererem perder a virgindade, antes de terminarem o secundário, já se tornou um trope clássico dentro da categoria de filmes de adolescentes. Para Abby (Sam Morelos), a revolução começa quando a adolescente descobre que a sua paixoneta de longa data está finalmente disponível e, apressada pela possibilidade de nunca mais se verem depois de entrarem para a universidade, faz tudo o que consegue para o conquistar. A jovem solitária acaba por recorrer a fontes alternativas para conseguir mais informações sobre a sua crush e paga à mascote da escola para descobrir como pode seduzir Max (Matt Cornett), e é aqui que descobre que todas as conversas de balneário giram à volta do 69! Confrontada com a sua inexperiência, Abby procura auxílio e contrata uma dançarina exótica, Santa Monica, interpretada por Chloe Fineman, para a assistir na sua aventura de despertar sexual. Claro que Santa Monica não é uma stripper qualquer e assistimos à sua própria jornada de aceitação forçada por uma High School Reunion, a que ela tenta escapar a todo o custo, enquanto se esforça para salvar o clube onde trabalha da falência.

Entre piadas com vibradores, um cameo da Jillian Bell, confusões inocentes, alucinações com pequenos números musicais e referências ao Risky Business (1983), a história desenrola-se num ritmo acelerado que cola uma série de situações embaraçosas, mas sem grandes consequências, de forma fluida e muito fácil de digerir porque apesar do seu título provocador, o filme acaba por ser bastante vanilla.

O desenvolvimento das personagens e da sua relação vai acontecendo em paralelo mas a química entre as atrizes não chega para nos convencer disso. Apesar das suas boas prestações individuais, tanto de Sam Morelos como Abby e de Chloe Fineman como Santa Monica, não vemos uma grande conexão entre as duas, e numa história que nos deve levar a refletir sobre a importância da amizade, é difícil desenvolver laços emocionais e acreditar nesta relação. Fiquei mais preocupada com a forma como esta jovem gasta dinheiro do que com a mentira que podia destruir a sua única amizade. Ainda assim, as personagens têm um universo recheado que lhes dá bastante contexto e as torna muito cativantes para o espectador.

Summer of 69 chega a um sítio feliz e apesar de usar muitos lugares comuns do género, não cai no cliché do makeover e esforça-se para oferecer uma transformação que não requer deitar fora os óculos graduados e esticar o cabelo, aliás, que não envolve qualquer alteração de visual. Mostra a mudança de Abby numa perspetiva mais positiva, através do seu empoderamento onde a verdadeira confiança vem simplesmente de não tentar ser o que não é.

“I am a sex machine”

Por muito que o filme grite sexo, isso não se vê no ecrã, é um verdadeiro cão que ladra mas não morde e isso não tem mal nenhum, todos gostamos de cães fofinhos! A abordagem visual complementa o tom leve e bem-humorado da longa-metragem. No ano em que temos Anora (2024) como a grande vencedora dos Oscars, podemos dizer que esta andou para que Santa Monica pudesse correr, porque mesmo com retratos tão diferentes da mesma realidade sentimos as portas abertas para a celebração do corpo e da liberdade sexual, a certa altura dei por mim a torcer para que uma senhora de meia idade continuasse a mostrar as suas maminhas num bar de strip!

No final, é mais um daqueles filmes que não vai mudar a nossa vida mas é uma escolha fácil de fazer antes de o jantar arrefecer. E, apesar de não acrescentar muito, aprendi que se colocar o dedo na pálpebra consigo sentir um pénis.

2.5/5
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