Stranger Things – 4ª Temporada Vol.1

de Antony Sousa

Um dos meninos queridos da Netflix estreou a primeira parte da sua penúltima temporada (a quinta foi já anunciada como sendo a última da série), e como se esperava os 7 episódios deste primeiro volume são fundamentalmente um forte teasing para o que se espera uma conclusão absolutamente épica!

Existem 3 linhas de enredo para seguirmos neste capítulo, 3 linhas que inevitavelmente acabarão por se entrelaçar, fórmula já usada na série. Hawkins, onde temos mortes arrepiantes que sobressaltam a cidade e revelam um novo perigo do universo upside down que se pensava fechado, com Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin), Max (Sadie Sink), Steve (Joe Keery) e companhia a liderarem as operações; Rússia onde temos Hopper (David Harbour) a tentar sobreviver e libertar-se da prisão em que está; Eleven/Jane (Millie Bobb Brown) e a família Byers em Utah a procurarem uma adaptação saudável, deixando Hawkins para trás.

O sucesso de Stranger Things (2016 – ), tal como qualquer série com várias temporadas de duração, depende muito da ligação que criamos com as suas personagens, independentemente do género. Neste caso depende também muito da ligação que as personagens criaram entre si, e os Duffer Brothers – criadores da série – sabem-no muito bem, daí não abrirem mão do que resulta, e sabem também como nos fazer pedir por essas ligações até elas serem entregues quando já não esperávamos. O bromance Dustin-Steve, e a parelha criada na última temporada Steve-Robin, são talvez os grandes destaques nestes 7 episódios, nesse quentinho que nos dá vermos personagens que aprendemos a gostar como se fizessem parte da nossa vida real, a serem genuínos na sua química cómica. Acredito que Stranger Things será sempre tão bom quanto a criatividade das coisas estranhas que acontecem, mas sobretudo tão bom quanto o entretenimento que é acompanhar o tough love entre as 3 personagens referidas acima, ou a relação de Lucas e Max, de Mike e Eleven, de Will (Noah Schnapp) e Mike (Finn Wolfhard), Hopper e Joyce (Winona Ryder), ou até das novas personagens que são introduzidas e funcionam como uma bebida fresquinha num dia de verão, ou a dinâmica de irreverência pura de acrescentar sempre algo que os outros não esperam por parte da irmã de Lucas, Erica (Priah Ferguson).

As novas personagens, são sempre interessantes de abordar nesta produção. Temporada após temporada, conhecemos novas personagens, quer antagonistas ou novos companheiros do nosso grupo de amigos de Hawkins, que de alguma forma encaixam sempre na perfeição na energia e tom da série, que noutro contexto provavelmente não funcionaria tão bem, mas aqui são peixes dentro de água. Há um tremendo mérito na equipa de casting, até porque por norma os nomes que são acrescentados ao elenco, apesar do sucesso estrondoso de Stranger Things, não são nomes sonantes que por si só chamam público. A excepção terá sido o saudoso Bob, interpretado por Samwi… Sean Austin, aliás. Eddie Munson (Joseph Quinn), Jason Carver (Mason Dye) e Dimitri Antonov (Tom Wlaschiha) são os novos elementos desta quarta temporada que comprovam, cada um à sua maneira, este fenómeno de bom casting, independente de outros valores que não o de se procurar a melhor opção para servir a história.

Depois de uma primeira temporada em que nos apaixonamos pelas crianças subestimadas de Hawkins, de uma segunda temporada com doses gordas de adrenalina e acção, e de uma terceira em que descobrimos personagens novas que não sabíamos que precisávamos, numa fusão da amizade que nos conquistou e da tensão que nos prendeu ao ecrã a limar as unhas com os dentes esperando não ver nenhum dos nossos preferidos a ser devorado por um demogorgon, agora chega-nos em primeira mão um bocadinho de tudo isto mas com mais moderação, e níveis de terror bem mais elevados para apimentar a ementa. Desde o primeiro episódio que se torna claro que Stranger Things deixou decididamente de ser para meninos, se é que alguma vez foi. Influências de Carrie (1976), The Exorcist (1973) e Nightmare on Elm Street (1984), são visíveis em muitas cenas e momentos que entram directamente para o top de imagens que virão à memória quando daqui a uns anos ainda estivermos a falar desta série.

A gestão das nossas emoções é muito bem conseguida, à medida que vamos avançando nos episódios o risco de morte de personagens centrais é real, e o enredo não tem pressas em dar as respostas aos pontos de interrogação que vai deixando no caminho. Talvez seja a temporada mais equilibrada, acaba em grande e mantém-se sem grandes oscilações de qualidade entre episódios, ao contrário do que aconteceu por exemplo na segunda temporada com aquele episódio 7 que mais pareceu um spin-off de 2ª categoria.

Com uma banda sonora que permanece teimosamente a ser deliciosa e um match carismático com a série, e uma realidade dos anos ’80 com VHS, e sem internet ou telemóveis, que de alguma forma se torna num auxílio nostálgico para a narração de histórias de aventura, terror e fantasia, ver Stranger Things é imperativo. Mesmo que o CGI neste Volume 1 da quarta temporada não seja propriamente fascinante para o nível que estamos habituados a ver, e que sinceramente merecia atendendo à projecção e investimento do projecto. Mesmo sabendo que como em qualquer parte 1 de algo, o melhor estará para chegar, a verdade é que há tanto entretenimento de categoria que o melhor é mesmo preparar as pipocas, ligar a TV ou o portátil, e curtir, se possível com quem partilha convosco desta costela estranha. E que bom é revisitar os nossos amigos estranhos.

4/5
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