Spencer (2021)

de Rafael Félix

A fable from a true tragedy

Estas são as palavras que vemos ainda antes de qualquer imagem ser apresentada no ecrã. A partir desse momento, estamos num mundo diferente. Durante as duas horas seguintes vemo-nos com Diana durante o Natal de 91’, altura em que ponderava a separação com Charles e era rodeada selvaticamente pela imprensa britânica que, tal como a Família Real, tem ouvidos nos sítios mais perversos, à procura de uma razão para afundar a Princesa do Povo.

Só quem não viu Jackie, um dos filmes mais underrated de 2016, podia esperar uma biopic comum como as que tantas vezes obtemos por esta altura do ano a tentar capturar a atenção para os prémios dos meses seguintes. Spencer não é esse filme.

Spencer é uma tragédia humana contada através de um conto de fadas que nos transporta para outro sítio, para outro momento em que o real e a fantasia se vão lentamente entrelaçando, oferecendo uma nova abordagem a algo que achamos já conhecer.

Kristen Stewart oferece a Pablo Larraín a melhor performance da sua carreira, não só captando os maneirismos e voz da princesa, mas mostrando uma extraordinária capacidade física para brilhar entre os raros momentos de quietude de Spencer em que é possível sentir a tensão até nos nós dos dedos de Stewart que ameaça explodir a qualquer momento.

Toda a gente já conhece a triste história de Diana Spencer, consumida por um casamento infeliz e um cerco mediático que Meghan Markle mais tarde também veio a conhecer e Steven Knight injeta no seu guião uma gigante quantidade de compaixão para com a sua personagem, pintado-a como uma princesa do futuro algemada por um reino do passado, uma mulher perdida no tempo e no espaço a tentar encontrar o caminho de volta a casa pelo meio de fantasmas, ilusões, mentiras e sonhos.

A realização de Larraín, com a fotografia íntima e fantasmagórica de Claire Mathon e a música vibrante e intrusiva de Jonny Greenwood, trazem vida a uma história coberta de tragédia e dão a Diana, como prova de amor final, o destino que um conto de fadas lhe daria, como princesa que ela é. Neste filme é oferecido a Diana, no meio de toda a ansiedade e terror gótico trazido pelas paredes e tradições ancestrais de Sandringham, uma ilusão de escapatória e a possibilidade de um final feliz, ou, no mínimo, de um final menos solitário e a beleza dessa ideia é tão pura como agridoce.

Spencer é um filme convencional feito de uma forma absolutamente inconvencional que se foca num curto período de tempo, não para contar a história de Diana, mas para captar a verdadeira essência daquilo que ela era.

Larraín e especialmente Stewart, conseguiram.

5/5
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1 comentário

Ju 12 de Setembro, 2021 - 07:11

Um must watch… O pior vai ser mesmo tirar da mente a Kristen Stewart dos vampiros… mas confio na crítica.

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