Smile 2 (2024)

de Lara Santos

“Stop smiling at me!”

Normalmente quando um filme faz bastante sucesso, começa logo a ser discutido uma sequela, ainda que seja da opinião geral que a maioria das vezes as sequelas são piores que os filmes originais. Smile (2022) foi um desses filmes, que na altura teve um marketing muito cativante e fez um estrondoso sucesso à volta do globo, alcançando um box office de 217 milhões de dólares contra o seu orçamento de 17 milhões de dólares. Porém, arrisco-me a dizer que Smile 2 contraria a norma na medida em que é melhor que o seu predecessor.

O filme dá uma direta continuidade a Smile, pois somos imediatamente reintroduzidos a Joel (Kyle Gallner), que no primeiro filme presenciou o “suicídio” de Rose Cotter (Sosie Bacon) e, consequentemente, passou a ser a seguinte testemunha da maldição em jogo. Depois de uma action sequence digna de um blockbuster de ação, Joel não sucede com o seu plano inicial e assistimos a mais uma vítima da perseguição por esta entidade maligna, Skye Riley (Naomi Scott), uma famosa cantora pop.

Riley está preparada para atuar numa tour, um ano depois do seu vício em álcool e drogas ter resultado num trágico acidente que deixou cicatrizes não só externas como internas. Além disso, vê-se agora perante uma entidade que a persegue, após assistir o suicídio de um amigo também amaldiçoado, como indicam as “regras do jogo”. Naomi Scott traz, assim, uma performance excelente, ao encarnar com exímia o papel de uma cantora famosa na sua luta constante para confrontar os seus traumas, acrescida dos novos pesadelos que vive, tudo enquanto é obrigada a colocar um sorriso para os fãs e fingir que está tudo bem, quando na verdade as suas visões induzem-na cada vez mais a ter dificuldade em distinguir o que é real e o que não é. Deste modo, encapsula a vulnerabilidade e os traumas que os artistas são capazes de passar neste ramo, aliados ao pânico e desespero induzido pela situação em que se encontra, retratando muito bem o conflito interno e o downfall da personagem.

Smile 2 revela-se muito mais caótico (no bom sentido), sendo o seu terror melhor executado, com imagens e cenas mais assustadoras, marcantes e desafiadoras que no primeiro, repleto de jumpscares um pouco mais fora da caixa, ainda que com muitas semelhanças ao anterior e alguns comuns dentro deste género. A cinematografia e efeitos especiais e práticos no geral mantêm-se fieis aos de Smile, porém, estão mais bem conseguidos e aesthetically pleasing.

Em termos de narrativa, Smile 2 acaba por não acrescentar algo de novo em relação ao seu predecessor, ou seja, não existe qualquer adição à história, como algum lore acerca da entidade ou qualquer camada diferente que possibilite um avanço na história. Deste modo, é difícil não ver este filme como um reboot do primeiro: quanto ao esqueleto da narrativa, acaba por fazer o mesmo que Smile fez, do início ao fim.

O seu final é fascinante visualmente e bastante promissor, pelo que, se for bem aproveitado, pode ser um excelente ponto de partida para uma possível continuação. Contudo, apesar de gostar de filmes que nos deixam na dúvida em relação ao que é ou não real, Smile 2 aventura-se e arrisca demasiado nesse aspeto comparativamente ao primeiro, ao ponto de perder uma certa coerência e deixar de ter um claro elo de ligação entre cada cena, o que faz com que fique muito por explicar.

Assim, apesar de assistirmos a uma certa repetibilidade neste filme, a realidade é que amplifica o que há de melhor e menos mau no primeiro, tornando-o mais rico relativamente à cinematografia e, especialmente, ao terror. Nesta perspectiva, estou consciente da referência em demasia ao primeiro filme como forma de suportar a crítica, mas, a verdade é que Smile 2, nos principais plot points, é basicamente o primeiro filme mas melhor. Posto isto, embora a sequela não desenvolva tanto no seu plot como era de esperar e apresentar alguns loopholes na sua ambiguidade, continua a ser um filme muito bem executado e uma visualização divertida e que vale a pena.

3.5/5
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