Se7en (1995)

de Antony Sousa

O que faz de um filme algo memorável e transportável para o nosso quotidiano, no formato de imagens, palavras, expressões, personagens? Provavelmente, a resposta será considerada longa, tendo em conta que vai incluir toda esta crítica. Existem mais do que sete razões para denominar Se7en como um clássico do cinema, e para quem nunca o viu devo dizer que cresce em mim um, não muito difícil de adivinhar, pecado mortal. Pelo menos para quem ler além deste parágrafo.

Mills (Brad Pitt) é um detective recém-chegado a uma nova cidade e como presente de boas-vindas recebe um homicídio com contornos macabros. Somerset (Morgan Freeman), um detective a viver os seus últimos sete dias antes da esperada reforma, acompanha Mills numa caça ao homem para a qual ninguém estava preparado, um serial killer cujas mortes são baseadas nos sete pecados mortais.

Vivemos num fragmento de tempo em que o fascínio por mentes distorcidas e criminosas cresce, a olhos vistos, a cada novo documentário que estreia perto de si, e nada melhor do que percorrer a filmografia de David Fincher para aguçar o apetite. O realizador americano criou logo na sua primeira tentativa, no género thriller, um marco que tão bem tem sido capaz de reproduzir na sua carreira. Se7en é meticulosamente editado, perturbadoramente realista, assustadoramente envolvente, ritmado na perfeição para todos os momentos importarem, impecavelmente bem interpretado, extraordinariamente bem acompanhado pela banda sonora de Howard Shore, culminando com um epílogo tão magistral que foi incluído no contrato de Brad Pitt, pelo próprio, como garantia de que não iria ser mudado, já que só assim aceitaria fazer parte do filme. Se por vezes apontamos os pecados capitais de longas-metragens que tinham potencial para mais, neste caso difícil é não encontrar as virtudes fundamentais para Se7en ser uma obra prima!

Denzel Washington foi a primeira escolha para o papel de David Mills, e certamente existe uma realidade paralela onde isso terá sucedido com enorme sucesso, porém cada elemento de Se7en, seja humano, de texto, de pré-produção ou de pós-produção, está no sítio certo à hora certa. Brad Pitt e Morgan Freeman constroem, em sete dias na narrativa, uma dupla de contrastes que funciona como um lindo e caótico quadro com todas as cores necessárias para a imagem final ser digna do museu de Louvre. Mills é sentimental e impulsivo, Somerset racional e cuidadoso. Mills está no início da carreira, Somerset no último capítulo da mesma. Mills tem uma mulher, Tracy (Gwyneth Paltrow) e cães de grande porte, Somerset vive sozinho há décadas. O que os aproxima é o que nos prende ao ecrã, a resolução de um caso invulgar, que à medida que se vai desvendando acresce em todos a curiosidade sobre quem orquestra tamanhas atrocidades.

Kevin Spacey interpreta o assassino em série, exibindo uma frieza e controlo de emoções, voz e expressões faciais que roçam o arrepiante. Apesar do timing para a primeiro cena em que vemos o assassino ser rigidamente gerido, o cérebro da personagem impõe a sua impressão digital desde o primeiro momento. O puzzle de sete peças sangrentas só fica completo com a adição da mente por trás deste plano mortal de expor a sociedade aos seus pecados. É esta personagem que nos tem nas suas mãos e conhece o destino de um argumento que nos faz perder a cabeça e deixa o bom senso fechado numa caixa.

Se7en é obrigatório. Se7en é uma masterclass de como criar um thriller sem pontas soltas. Se7en incute uma certa ligação perniciosa com o número sete, tantas vezes associado à sorte ou ao Cristiano Ronaldo. O que apraz dizer quando os créditos finais passam à nossa frente? Talvez: “The world is a fine place and worth fighting for. I agree with the second part”.

5/5
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