Liderado pelo monstruoso talento de Gérard Depardieu e pelo dom elegante de Déborah Lukumuena, Robuste, a longa metragem de estreia de Constance Meyer, tem no seu elenco, que combina a experiência do primeiro e o frescor da segunda, a sua mais poderosa cartada.
Depardieu é Georges, um ator desgastado cuja carreira sobrevive nas costas de sucessos passados. Lukumuena é Aïssa, a agente de segurança privada que vem substituir o antigo e confiável guarda-costas de Georges. As comparações com um dos maiores êxitos do cinema francês dos últimos anos – Intouchables (2011) de Olivier Nakache e Éric Toledano – são inevitáveis, à medida que vemos os dois protagonistas de Robuste desenvolver uma improvável, mas carinhosa amizade.
O filme de Meyer segue, à sua medida, a sucessão de pulsações dramáticas que associamos desde logo a este tipo de história. A estranheza do início, os momentos de conexão, e o clímax emocional em que o caricato duo se apercebe da magnitude do laço que criaram, sem se aperceber, e contra todas as expectativas.
O esqueleto de Robuste não é nada de novo – o que, por si só, não é necessariamente algo negativo. O pianista negro e o seu chauffeur branco nos anos 60; o velhinho isolado e o escuteiro insistente; o rei gago e o seu terapeuta da fala; a rainha imperialista e o seu “humilde servo” – os clichês existem por uma razão, e estas histórias sobre vínculos humanos e generosidade afetiva, onde esta se calhar não é merecida e esperada, acabam sempre por resultar bem com as audiências.
Meyer tenta, no entanto, elevar o seu storytelling, e distanciar-se do melodrama associado a estes filmes, através de uma realização minimalista, que permite às suas personagens, e aos diferentes momentos dramáticos, respirar, ganhar corpo, crescer e desmoronar-se. O silêncio e a introspecção são vetores da sua escrita, resultando em diálogos incisivos e numa comunicação imagética fortíssima, que privilegia a máxima do “menos é mais”. Também a edição e a música se guiam por este princípio.
Durante grande parte da duração de Robuste, Meyer cria duas personagens que merecem e cativam a nossa atenção, cujas ações conseguem ser inesperadas, pontualmente subvertendo as tais expectativas e referências que projetamos no filme. Georges demonstra uma complexidade interior grande, numa luta constante e ansiosa com uma solidão muito específica cuja mais fiel aliada é a fama, enquanto que Aïssa, em oposição, se revela uma mulher sensível, ponderada, e com uma visão do mundo desarmante de tão relaxada que consegue ser.
No entanto, ainda que separados sejam ouro, a química de Depardieu e Lukumuena nas cenas que partilham fica aquém das expectativas, infelizmente, oscilando entre desconfortável no seu pior e o limiar da sinceridade no seu melhor. A direção que a história acaba por tomar, assim como a sua conclusão, são igualmente insatisfatórias, confirmando a estagnação que já se previa desde o ponto médio de Robuste.
Os diferentes conflitos simplesmente acontecem às personagens, sem que estas assumam qualquer atitude proativa na tentativa de tomar as rédeas das suas próprias vidas. Quando Meyer lhes lança uma corda com acontecimentos que parecem que finalmente vão ter consequências proveitosas e andar com a história para a frente, acaba por voltar tudo ao ponto de partida, sem grande evolução. O filme ganha assim, no seu trecho final, uma passividade quase sufocante que deita por terra o seu gigante potencial.
Robuste perde-se no reino da ponderação e da observação e empanca. Talvez fosse essa a intenção de Meyer. Talvez o objetivo do seu filme fosse desconstruir o lugar-comum narrativo dos pares improváveis, para demonstrar que duas pessoas tão diferentes, vão ficar sempre, permanentemente, iguais à sua essência, independentemente dos contactos que façam. Talvez quisesse demonstrar que a ideia romântica de que outra pessoa, e não nós próprios, nos vai fazer mudar, e melhorar, é descabida.
Ainda assim, porque Meyer nunca se atreve a fazer qualquer um destes compromissos ou afirmações filosóficas na sua história, Robuste acaba por se reerguer dos escombros como um filme demasiado vazio para a quantidade e qualidade de conteúdo e recheio à sua disposição, quando se tem na mão Depardieu e Lukumuena como trunfos a jogar.