A 26.ª edição do festival Queer Lisboa, que decorre de 16 a 24 de setembro em diversos espaços da capital, já tem o seu programa anunciado.
Para além dos títulos de abertura e encerramento previamente anunciados – Fogo-Fátuo (2022), de João Pedro Rodrigues e Esther Newton Made Me Gay (2022), de Jean Carlomusto –, o festival apresenta os mais recentes filmes de Alain Guiraudie, Catherine Corsini, Yann Gonzalez, Leonardo Brzezicki ou Sébastien Lifshitz, assim como a longa-metragem paquistanesa, Joyland (2022), duplamente premiada na passada edição do Festival de Cannes. O festival exibe ainda, em Sessão Especial, a estreia do mais recente filme do realizador argentino Marco Berger, Los Agitadores (2022), uma reflexão brutal sobre a masculinidade tóxica.
A programação do Queer Lisboa 26 volta a fazer refletir sobre as importantes questões ligadas à memória, individual e coletiva. Na Competição de Longas-Metragens, que será avaliada por um júri composto pela escritora e dramaturga Cláudia Lucas Chéu, pelo ator Nuno Nolasco e pela realizadora e argumentista Rita Azevedo Gomes, destaque para a cinematografia brasileira com os novos trabalhos de Gustavo Vinagre e Fábio Leal. Após terem vencido em conjunto o Prémio de Melhor Filme no Queer Porto 7, em 2021, regressam desta vez à edição lisboeta do festival, o primeiro para apresentar Três Tigres Tristes (2022), uma deambulação, ora crua, ora surrealista, de uma juventude à procura de si mesma, numa inclemente e distópica São Paulo (vencedor do Teddy Award na última edição da Berlinale), e, de Fábio Leal, Seguindo Todos os Protocolos (2022), que narra o abismo mental de quem quer cumprir as normas de saúde prescritas, mas também ter relações sexuais, durante a pandemia. O realizador espanhol Adrián Silvestre regressa igualmente ao festival – após sair vencedor desta competição em 2016 e merecedor de uma menção especial pelo seu documentário no ano passado -, desta feita com o híbrido Mi Vacío y Yo (2022), um dos filmes mais celebrados em festivais de cinema queer nesta temporada, e onde equilibra com humor e pungência a história de Raphi, que, de pasmo em pasmo, se vai construindo como mulher.
Na Competição de Documentários, o júri será composto pela realizadora e tradutora Joana Frazão, pela autora-realizadora Nathalie Mansoux, e por Rui Madruga, produtor na direção de Desenvolvimento de Conteúdos da RTP. Esta secção é representativa das revoluções, individuais e coletivas, que continuam a marcar a resiliência da comunidade LGBTQI+. O ativismo, particularmente focado na América do Sul, é um dos pontos fortes desta secção este ano. Em Corpolítica (2022), Pedro Henrique França acompanha as candidaturas de pessoas LGBTQI+ nas eleições de 2020, no Brasil, demonstrando as dificuldades que enfrentam num panorama político de extrema-direita; já Nos corps sont vos champs de Bataille (2021), de Isabelle Solas, regista os esforços feitos pela comunidade trans na Argentina para uma reeducação social. De salientar ainda Ardente·x·s (2022), onde Patrick Muroni documenta a evolução de um coletivo de mulheres e pessoas queer cujo manifesto propõe pensar, discutir e reformular a produção de conteúdos pornográficos. Em Lisboa, estarão presentes Patrick Muroni, assim como Pedro Henrique França.
Os filmes da Competição de Melhor Curta-Metragem, assim como da Competição de Curtas-Metragens de Escola Europeias “In My Shorts”, irão este ano ser avaliados por Rodrigo Díaz, produtore chileno, pelo fotógrafo Rui Palma, e pela diretora e programadora do festival Shortcutz Lisboa, Sandra de Almeida. Amplo leque do espectro queer na seleção de curtas deste ano e, de novo, destaque para filmes que ampliam o discurso do que é, deveria ou poderia ser queer, graças a radicais linhas de fuga, a atrevidos subterfúgios metafóricos, e ao uso, em definitivo, de uma linguagem cinematográfica que se sabe tanto ferramenta política como arma de experimentação estética.
No Queer Art, competição por excelência onde se exibe aquele cinema que desafia o conceito de queer, transpondo a elasticidade e complexidade do mesmo para um cinema seu espelho, dois filmes têm tido um particular impacto. Travesía Travesti (2021), de Nicolás Videla, onde um coletivo chileno drag funde subversão política e sexual com BDSM e algum ressentimento, nesta que é uma história pessoal e política; destaque também para Ultraviolette et le gang des Cracheuses de Sang (2021) de Robin Hunzinger. Oito filmes compõem esta secção, cujo júri será composto pelo diretor artístico do festival Walk & Talk, Jesse James, pela cineasta e artista Luciana Fina, e pelo artista plástico Vasco Araújo. Da Competição Queer Art, estarão presentes em Lisboa Nicolás Videla e Olympe de G.
Em parceria com o Centro Anti-Discriminção (CAD), um projeto conjunto de duas associações na área do VIH/sida, o GAT e a Ser+, o Queer Lisboa irá acolher a apresentação da campanha “Eu sou VIH+ e visível”, direcionada à eliminação do estigma associado à infeção pelo VIH. No Cinema São Jorge iremos acolher ainda a apresentação de dois livros, Nós xs Inadaptadxs. Representações, Desejos e Histórias LGBTIQ na Galiza e A Defunción dos Sexos: Disidentes Sexuais na Galiza Contemporánea, duas importantes obras e que são o reflexo da profícua produção nos Estudos Queer na nossa vizinha Galiza.
A abertura do festival ficará a cargo da última longa-metragem de João Pedro Rodrigues. Fogo Fátuo (2022), que teve a sua estreia na Quinzena dos Realizadores da passada edição do Festival de Cannes. Esta inusitada comédia erótica em formato musical atravessa alguns dos mitos fundadores do imaginário coletivo português, inscrevendo-lhes uma boa dose de sátira e fantasia. Temas tão díspares como as mudanças climáticas, a política republicana e a história colonial encontram neste filme ligações improváveis.
Já para a sessão de encerramento, o filme escolhido será Esther Newton Made Me Gay (2022), da realizadora Jean Carlomusto, documentário sobre a vida de Esther Newton, importante antropóloga social, ativista lésbica, e precursora dos Estudos de Género e da Teoria Queer. O filme oferece um olhar às vivências LGBTQI+ desde a década de 1950, acompanhando o movimento de libertação das mulheres, o feminismo lésbico, a cultura drag e a construção de uma identidade butch.
Em 2022, as festas do Festival também estão de volta. O Mise en Scène será o palco de uma Hard Night Party secreta; no Purex, a equipa e volunqueers deste ano irão tomar o controle da cabine; o Lounge volta a receber uma A Night Out with the Hard Ones particular; e o Titanic Sur Mer será o local da Festa de Encerramento, com Mel das Pêras, Mariño, Afonso Peixoto e Lola Herself como host.
O programa completo do festival – que ainda inclui as secções Hard Nights e Panorama assim como retrospetivas na Cinemateca –, calendário de exibição, convidados do festival, actividades paralelas e festas podem agora ser consultados em www.queerlisboa.pt