Escrito e realizado por Quentin Tarantino, Pulp Fiction conta a história de um assassino, Vincent Vega (John Travolta), que se apaixona pela mulher do seu chefe, Mia Wallace (Uma Thurman); de um pugilista, Butch Coolidge (Bruce Willis), que engana Marsellus Wallace (Ving Rhames) quando decide ganhar uma luta que era suposto perder; e de um casal, Pumpkin (Tim Roth) e Honey Bunny (Amanda Plummer), que tentam realizar um assalto a um diner, que rapidamente sai do controlo.
Não é por acaso que Pulp Fiction é considerado por muitos, inclusive por aquele que vos escreve, a grande magnum opus de Tarantino. Os diálogos são extremamente refinados, contribuindo tanto para o preenchimento das cenas, pois ficam a cargo de atores que se sentem extremamente à vontade nos seus personagens, o que acaba por criar uma boa sensação de que a história está a avançar, como também servem para dar pistas sobre futuros eventos, desafiando o público mais atento a fazer as conexões que o filme pretende.
A melhor parte é que o filme não é proibitivo, pois quem estiver interessado em apenas apreciar o filme pela vertente do entretenimento não se sentirá traído. O humor é muito bem colocado e a imprevisibilidade reina na narrativa, uma vez que o realizador consegue sempre conduzir o público a pensar que algo vai acontecer, para depois acontecer o oposto ou algo que simplesmente apanha o público desprevenido – sem nunca perder a plausibilidade – e também porque o filme provoca tensão de uma forma bastante inteligente. O melhor exemplo é o momento em que Vincent fica encarregue de tomar conta de Mia Wallace, mulher do mafioso, Marsellus Wallace. Toda aquela tensão sexual entre os dois personagens é explorada ao máximo, principalmente, quando Vincent começa a ceder, pois, previamente, o filme já tinha deixado em evidência a fúria de Marsellus, e em vez de fazer algo muito elaborado, Tarantino explora essa tensão através de um concurso de dança, que rapidamente se tornou numa das cenas mais icónicas da sua filmografia, e quiçá da sétima arte.
Falar deste elenco poderia muito bem ser resumido a “estão todos perfeitos”, mas não seria uma crítica de Pulp Fiction se não falasse na dupla John Travolta e Samuel L. Jackson, que dá vida a Jules, parceiro de Vincent. O carisma de ambos, adicionado a um argumento genial, consegue fazer crer que poderíamos assistir a três horas só dos dois a andarem de um lado para o outro, que ainda assim seria melhor que muitos argumentos que se veem por aí.
Agora, apesar de o filme não ser proibitivo, isso não significa que o público se possa dar ao luxo de não prestar atenção, até porque a estrutura narrativa é não-linear, uma vez que os atos estão repartidos, principalmente, pelos vários arcos dos personagens, em vez de estarem organizados de uma forma cronológica, e isso pode levar a alguma confusão, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. A banda sonora também encaixa como uma luva, dando a sensação que as várias músicas foram compostas a pensar que um dia alguém iria montar um filme como este.
Pulp Fiction é um filmaço. Apesar de ser violento, com cenas explícitas q.b., consegue fazer com que a brutalidade seja um complemento aos diálogos, que é aquilo que verdadeiramente sustenta o filme. É um filme que domina a tensão e até chega a ser manipuladora a forma como Tarantino consegue brincar com as nossas emoções, conseguindo chocar, chegando ao ponto de prendermos o fôlego, ou até rir de nervosismo ou mesmo fazendo-nos soltar gargalhadas em situações de enorme stress, sem nunca retirar a sensação que o perigo deixou de existir ou que os personagens estão, de alguma forma, protegidos pelo argumento.