Paradise Highway (2022)

de Pedro Ginja

O tráfico humano continua , infelizmente, a ser uma realidade do dia-a-dia, e no caso de crianças ou menores de idade o problema reveste-se de gravidade bem maior porque são vítimas que muitas vezes não se conseguem defender, muito vulneráveis a predadores e a organizações que se “alimentam” da exploração do ser humano. Uma realidade ignorada e muitas vezes invisível, mesmo em países considerados evoluídos como, no caso deste filme, os Estados Unidos da América.

Paradise Highway – Perseguidas, acompanha Sally (Juliette Binoche), condutora de pesados, pelas estradas americanas. O seu irmão Dennis (Frank Grillo) está prestes a sair da prisão, mas continua a ser chantageado para fazer entregas de carácter duvidoso, que confia a Sally por não as poder fazer pessoalmente. Para salvar o irmão, Sally está disposta a tudo. Mas a última entrega, antes da libertação de Dennis, testa a sua lealdade quando percebe que está envolvida em tráfico humano.

Anna Gutto, na sua primeira longa-metragem, é a responsável pelo argumento e pela realização de uma história que apresentou ao mundo em 2017, altura em que ganhou um prémio por este argumento, e que chega em 2022 à sua estreia no grande ecrã. Apesar de um tema actual e relevante, o argumento não traz grandes surpresas com a habitual história de perseguição e fuga, tanto da lei como dos criminosos. De um lado a lei com a dupla de detectives, o veterano e experiente Gerick (Morgan Freeman) e o rookie Finley (Cameron Monaghan) na habitual troca de “galhardetes” e lições de um para o outro, ambos em piloto automático. Enquanto no lado do crime não há tempo para a criação de uma personagem com profundidade, ficando apenas os clichês habituais. Há muito pouco impacto na história do personagem de Frank Grillo, para além de alguns minutos no final em que surge “adormecido”, quando a história pedia bem mais

Uma mulher na realização traz uma sensibilidade diferente e é, infelizmente, ainda um facto a assinalar pela raridade com que acontece. Os melhores pontos da história são mesmo fruto de uma visão feminina na maneira como retrata Sally e as suas companheiras de estrada, parte integrante da história mesmo quando apenas nos chegam as suas vozes, distintas e carregadas de uma camaradagem e lealdade total. Sally é a parte visível desta irmandade, e com ela carrega os traumas e os sonhos de um futuro melhor, o que por si só torna o filme melhor, mas é na partilha do ecrã com Leila (Hala Finley), que surgem os melhores momentos do filme ao criar, com tempo, o evoluir de uma bela relação de amizade, amor e respeito. Peca, no entanto, por se situar em territórios seguros do melodrama e por sanitizar este mundo podre do tráfico infantil, retirando gravitas a este tema, escondido da sociedade no geral.

Paradise Highway não deixa, no final, nenhuma lição para além da força da solidariedade feminina na estrada, enquanto o argumento pedia algo mais para tornar visível, à opinião pública, este flagelo do tráfico humano, muitas vezes bem mais perto do que nós julgamos. E é pena, quando o talento de Juliette Binoche e de Hala Finley se desperdiça numa história carregada de lugares comuns e sem uma identidade visual própria.

2/5
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