Paradis Paris (2024)

de Antony Sousa

Tudo Acontece em Paris é a tradução portuguesa para o título deste filme, e efectivamente o movimento de Paris neste enredo faz corar de embaraço cidades como Nova Iorque ou Tóquio, tal é a mescla de histórias que somos convidados a conhecer através da visão de Marjane Satrapi, realizadora e co-argumentista da obra.

Na charmosa cidade de Paris, uma cantora de ópera afastada dos palcos, um apresentador de um programa sobre a morte, uma jovem com depressão, um duplo que é também pai solteiro, um maquilhador sonhador, um dono de um café a viver o luto da sua falecida mulher e uma empregada doméstica devota à sua família, cruzam-se entre si e enfrentam dilemas de vida e de morte.

Como é possível entender pela premissa Paradis Paris multiplica o seu foco de atenção em várias personagens e ainda nas personagens directamente ligadas às personagens centrais. O resultado dessa ambição é um número elevado de altos e baixos, com momentos que atingem totalmente a sua intenção e outros tantos onde fica aquém do desejado. Todavia, a ambição não se esgota na quantidade de protagonistas que partilham o enredo, é demonstrada também nos diferentes géneros que tenta explorar. É verdade que a comédia acaba por ser o género mais presente em toda a trama, no entanto drama, romance e até terror também marcam presença e nem sempre de modo subtil e orgânico. Por vezes, a edição não protege a consistência das histórias e ficamos num constante “on/off”, em alguns segmentos activamos a nossa atenção, noutros sentimos o arrastar do filme. O exagero na distribuição de arcos de personagem também nos leva inevitavelmente a optar por aquelas com quem mais empatia criamos, e por consequência a desistir das que estão a tirar tempo e espaço às que gostamos, o que desequilibra a nossa ligação com o todo.

Num elenco tão vasto não é fácil encontrar quem brilhe, porém há performances que se revelam autênticas ladras de cenas, roubando o nosso coração em cada cena em que aparecem. Rossy de Palma, com a sua incorrigível Dolores, é um exemplo perfeito disso mesmo, relembrando-nos que é mais importante o que fazemos com o tempo de acção que nos é dado do que simplesmente ter mais tempo de acção. Boa parte das gargalhadas que o filme nos proporciona têm origem nesta actriz espanhola. Charline Balu-Emane é uma revelação, entregando uma performance comovente, intensa no silêncio e hilariante nos monólogos. Tem em Marie-Cerise uma personagem desafiante, uma adolescente em estado profundo de depressão devido a cyberbullying, mas enfrenta o desafio com notável distinção! Gwendal Marimoutou merece também ser destacado. Um nome ainda desconhecido, e com poucos trabalhos creditados, mas não se antevê que a sua carreira se mantenha no anonimato depois do seu Fred aka Badou. Os seus tempos de comédia são excelentes, a naturalidade está sempre presente e constrói um sonhador ingénuo e talentoso que fica connosco depois do créditos finais passarem no ecrã. Monica Bellucci será talvez o nome mais sonante de todo o elenco e interpreta de facto uma Giovanna delirante em certos pedaços do filme, contudo no puzzle final ficam a faltar algumas peças e sobram algumas repetidas, parcialmente culpa do argumento que quer acudir a todas as capelas e deixa algumas personagens a rezar sozinhas sem que as suas preces sejam ouvidas.

Paradis Paris tenta ir a muitos sítios sem chegar a um destino final ou sem criar estradas que permitam determinadas personagens de viajarem sem solavancos, chega até a variar entre a tragédia e o sketch em poucos minutos, mas não deixa de ser um filme que brinda à vida, que procura reflectir sobre a beleza inerente de estarmos vivos e sobre a beleza de ter Paris como anfitrião dessas vivências.

3/5
0 comentário
1

Related News

Deixa Um Comentário