Outlaw King (2018)

de Guilherme Teixeira

Realizado por David Mackenzie, Outlaw King, conta a história de Robert The Bruce (Chris Pine), o verdadeiro Braveheart, e a sua batalha pela independência da Escócia. Depois da derradeira derrota de William Wallace, Robert, juntamente com os outros nobres escoceses que traíram Wallace, fazem um acordo com Eduardo I (Stephen Dillane), Rei de Inglaterra. Contudo, como uma boa história escocesa ordena, Robert não cumpre o prometido e é coroado rei, afastando-se da coroa inglesa. O império inglês, ao saber disto, lança um ataque e declara Robert The Bruce como um fora-da-lei. A viver como um fugitivo, Robert reconstrói um exército para recompor o seu reino e garantir, assim, a independência da Escócia.

Apesar da época retratada ser no seguimento do clássico de 1995 Braveheart, não se trata, de todo, de uma “parte dois” desse filme, até porque algumas personagens que são retratadas em ambos os filmes recebem um tratamento completamente diferente, nomeadamente, Robert The Bruce, que no clássico é retratado como alguém atormentado pelas suas decisões e com um quê de cobardia, e aqui  é retratado como alguém seguro e determinado que, apesar de reconhecer a gravidade da execução de William Wallace não parece sentir-se tão atormentado pelo acontecimento.

Neste filme, Eduardo II (Billy Howle) tem uma maior intervenção como antagonista, relegando Eduardo I para um segundo plano, o que acabou por não funcionar muito bem no que toca à personificação dessa figura que o público deveria temer. Não haveria problema que existisse esta dinâmica desde que a perigosidade de Eduardo I fosse bem presente. No clássico de 95′, Eduardo I foi pintado como um verdadeiro vilão. Um vilão que sempre que aparecia na tela nós pensávamos o pior e que conseguia sempre superar sem dizer ou fazer muito. O que este filme poderia ter feito, ao invés de o afastar para segundo plano, era manter essa tal grandiosidade e deixar que Eduardo II assumisse de uma forma mais natural o seu “protagonismo”. Para além de aumentar o risco, também iria fazer com que o próprio Eduardo II tivesse mais profundidade, mostrando que as suas ações não se tratavam apenas de uns caprichos de um rapaz mimado com um exército, mas sim a necessidade de ele se assumir como futuro herdeiro da coroa inglesa. Não tendo optado por este caminho, esta posição de antagonista ficou-se num plano funcional.

A realização de Mackenzie é sólida. Ele percebe as debilidades do argumento e consegue extrair o máximo daquilo que lhe é dado. A questão política é bem trabalhada e muito bem conjugada com o drama do filme, nomeadamente, no que toca à presença da Florence Pugh, que dá vida à Elizabeth de Burgh, mulher de Robert The Bruce. Para além da excelente atuação, num primeiro momento, ela acaba por ser a grande fonte dramática ao desconstruir a ideia de que um casamento político é mais político do que propriamente um casamento. As cenas de ação, apesar de não serem inovadoras, são muito bem coreografadas com as elegantes transições entre longos planos estáticos e hand-held camera (câmera tremida) – o que por norma costuma ser o recurso de filmes de ação fracos – mas que aqui funciona lindamente para criar uma atmosfera claustrofóbica e paranóica. O mesmo elogio também se estende para o design de produção que nos transporta de uma forma bem realista para o século XIV.

Outlaw King é um bom filme mas joga pelo seguro, não fazendo frente ao Braveheart de Mel Gibson. Consegue promover uma viagem histórica emocionante e, apesar de caricaturar alguns personagens, Mackenzie consegue extrair o máximo das questões dramáticas e políticas, o que faz com que a batalha final tenha outro sabor.

4/5
1 comentário
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1 comentário

Ju 3 de Março, 2022 - 18:09

Excelente review. Analítica e coordenada. Aqui uma apaixonada pela Escócia… já não tem essa capacidade. Muito bem escrito!

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