Os Predadores (2020)

de Janai Reis

Pietro Castellitto estreia-se na realização e na escrita – seguindo os passos dos seus pais, Margaret Mazzantini actriz e escritora, e Sergio Castellitto actor, escritor e realizador – tendo ainda um papel crucial como actor, no seu filme Os Predadores (no original I Predatori). Sem dúvida uma grande estreia, tendo em conta a nomeação para Melhor Filme e levando para casa o Prémio Orizzonti para Melhor Argumento – prémio que distingue os filmes na vanguarda das novas estéticas do cinema – no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza.

Um filme dramático cruzado com momentos risórios que remetem para a época da commedia all’italiana e que conta a história de duas famílias aparentemente incompatíveis: a Pavone e a Vismara. Pavone é uma família da classe alta, dos médicos aos cineastas enquanto Vismara é uma família de classe baixa e de criminosos nazis, das empregadas de limpeza a vendedores de armas – algumas delas até sem números de série. Ambas têm um lado bom e um lado mau, ambas têm pressões familiares e sociais. Uma explosão, literalmente, traz as duas famílias num confronto misto de emoções. Todos os personagens têm algo a esconder e algo a revelar.

Falamos de um filme de narrativas paralelas que se cruzam naturalmente, não só entre as duas famílias, mas também entre os elementos ora da família dos Pavone, ora da família dos Vismara. Este estilo de contar histórias não é novo e temos exemplos deste tipo de narrativas paralelas que vão desde o filme Cidade de Deus (2002) de Fernando Meirelles e Kátia Lund – que divide o filme em duas perspectivas principais (como Os Predadores no caso das famílias) – até ao Snatch (2000) de Guy Ritchie – que traz um conjunto vasto de personagens e de narrativas paralelas que se vão cruzando entre si, sejam elas da mesma facção ou não (tal como o número de personagens de Os Predadores).

Com este modo de contar a história e carregado de personagens caricatas, o filme tem um ritmo fácil de agarrar e de divertir o espectador. O guião é sem dúvida a grande força desta primeira obra de Castellitto, não só pela destreza das narrativas paralelas, mas também pela naturalidade dos diálogos, que, mesmo quando exagerados no seu tom grotesco, não saem da linha dos personagens nem do universo apresentado, acrescentando assim um aspeto enorme de verosimilhança ao espectador. Alguns momentos dramáticos podem perder-se no tom cómico, mas não a ponto de retirar valor ao filme como um todo. 

A boa narrativa, juntamente com uma realização diversa de momentos bastante originais (ou, no mínimo, não muito expectáveis) fazem com que o filme seja na sua generalidade sólido. A montagem parece ser o seu ponto mais fraco, nem sempre é coerente, mais precisamente em cortes bruscos que, por vezes, parecem não ter qualquer tipo de vinculação sensorial ou propósito com as cenas seguintes.

Trata-se, portanto, de um filme com uma forma estética razoável, montado de forma funcional, onde a realização suporta sensorialmente a força da história, dos personagens e da narrativa original de Pietro Castellitto. Um jovem realizador a seguir, pois parece prometer bons trabalhos no porvir.

3/5
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