Os 10 Melhores Filmes de 2022

de Fio Condutor

Num ano de maior normalidade pós-pandémica, as salas viram-se a encher novamente para os grandes blockbusters, embora, surpreendentemente, não necessariamente aqueles que envolvem homens em fatos de latão ou grandes martelos nórdicos. Em vez disso vimos salas em alta rotação durante quase 5 meses com Top Gun: Maverick e a loucura de Dezembro que tem sido a corrida às salas para ver o que James Cameron tinha inventado na muito aguardada sequela de Avatar (2009). Ainda assim, não foram só os gigantes que causaram furor: Everything Everywhere All at Once foi um êxito desmedido um pouco por todo o mundo e a longa-metragem de estreia de Panah Panahi, Hit the Road foi um sucesso inesperado nas poucas salas em que passou.

Chegam então os 10 melhores filmes do ano para a equipa do Fio Condutor. Para ser elegível, é necessário que o filme tenha tido estreia em sala, televisão, streaming ou VOD em território português em 2022, excluindo assim alguns filmes que estrearam em festivais nacionais ou internacionais como TÁR ou The Whale, que serão contabilizados na pool de filmes de 2023. Por causa deste critério, vão encontrar filmes nesta lista que foram amplamente vistos durante o ano de 2021, mas que só obtiveram estreia oficial em Portugal durante o ano de 2022.

Estes são os melhores filmes estreados em Portugal em 2022:

10. The Batman, de Matt Reeves

O legado é longo e pesado. Batman tem marca registada de qualidade e com variedade assinalável. Para pegar nas histórias do morcego vigilante é preciso ter coragem e sobretudo uma visão muito própria. Matt Reeves exclama ao mundo a sua em The Batman, e reafirma Robert Pattinson como um dos actores mais interessantes e imprevisíveis da sua geração. Com uma estética negra, gótica, representada numa fotografia fascinante, esta é uma nova versão que entusiasma pelo patamar que já atinge, e pelo potencial que apresenta para o futuro. Riddler e Penguin são os vilões deste capítulo, e as interpretações de Paul Dano e Colin Farrell empurram o nível geral ainda mais para o topo. Gotham é uma personagem por si só, tal é a vivacidade e autenticidade que apresenta, e Catwoman, protagonizada por Zoe Kravitz surge como bónus no cocktail de sabores que encontramos nas quase 3 horas de enredo. Quando há tantos pontos de comparação com o passado, é impossível ser-se consensual, mas The Batman sabe exactamente o que é, e sente-se confortável na sua pele, bem distinta dos últimos exemplos do herói.
– Antony Sousa

 

9. Hit the Road, de Panah Panahi

Após uma estreia bastante aclamada no festival de Cannes, Hit the Road continuou o seu percurso sem nunca desiludir. Neste que é o seu primeiro filme enquanto argumentista e realizador, Panah Panahi apresenta-nos um road movie familiar. Aqui conhecemos uma família, por vezes caótica, que faz uma viagem pelo interior do Irão. O que faz este filme voar é a brilhante interação entre os quatro atores principais, alinhado a um grande uso do realismo na realização. Há calor e ternura, embora que por vezes um pouco escondidas, neste retrato de união que conscientemente traça um caminho para uma separação indesejada e arriscada.
– Rita Sousa

 

8. The Fabelmans, de Steven Spielberg

As expectativas eram altas depois dos burburinhos que circulavam em meados deste ano, quando o filme foi apresentado em circuitos fechados e obteve boas reações. Felizmente, os rumores confirmaram-se e, de facto, temos aqui mais um clássico de Steven Spielberg que conta a sua história através de Sammy, um rapaz que cresceu de câmera na mão e, como todos sabemos, assim se manteve até aos dias de hoje. Em The Fabelmans, Spielberg  constrói uma narrativa que, apesar de simples, consegue tornar cada conflito num espetáculo e consegue injetar uma enorme dose de emoção, como nenhum outro realizador consegue fazer. Uma verdadeira carta de amor não só aos filmes, mas ao cinema.  
– Guilherme Teixeira

 

7. Decision to Leave, de Park Chan-wook

Em 2022, Park Chan-wook provou novamente que é incapaz de fazer maus filmes. O visionário cineasta coreano fez o seu grande regresso às longas-metragens desde 2016 com Decision to Leave, um romance policial que transforma velhos clichés numa exploração inebriante da índole humana. A atriz chinesa Tang Wei lidera o filme como suspeita do homicídio do seu marido, numa prestação enigmática e desconcertante, que cola os olhos de qualquer espectador ao ecrã. Park Hae-il é o par perfeito enquanto o submisso, mas brilhante detetive que a investiga. Meticulosamente realizado e escrito, e com uma intenção autoral evidente em todos os planos, linhas de diálogo, e sequências, Decision to Leave é uma obra subversiva sobre o desejo e a moralidade, que consegue, ao mesmo tempo, fazer-nos torcer pela relação romântica pouco ortodoxa que cresce entre os seus protagonistas.
– Francisca Tinoco

 

6. Top Gun: Maverick, de Joseph Kosinski

Numa altura onde Hollywood anda questionável na sua identidade e o futuro do cinema está em dúvida, Top Gun: Maverick entrega uma experiência com um molde familiar, mas com um resultado que, francamente, não tinha o direito de ser tão bom quanto provou ser. Municiado dos clássicos clichés narrativos e de uma previsibilidade saudável, consegue ultrapassar isto tudo graças a uma confiança contagiante, que nasce de um trabalho técnico eletrizante, seja nos visuais práticos e inovadores ou na banda sonora nostálgica, e de um amor pela magia do cinema e entretenimento. Tudo se junta numa aventura que é tão sólida e segura de si mesma, que é impossível desviar o olhar e não aplaudir o espetáculo que é conjurado de propósito para as salas de cinema. É, sem sombra de dúvida, uma ode ao cinema clássico de uma era de ouro longínqua, e é tão mais saboroso por isso.
– Rúben Faria

 

5. Triangle of Sadness, de Ruben Östlund

Triangle of Sadness mostra-nos a viagem num cruzeiro de um casal de modelos e influencers, Yaya (Charlbi Dean) e Carl (Harris Dickinson), que visam partilhar nas redes sociais o luxo em que vivem durante a sua estadia. Não obstante, múltiplos acontecimentos inopinados e risíveis transfiguram completamente o caráter ostentoso do cruzeiro, quer para os passageiros como para a tripulação. Vencedor do Palm d’Or na 75ª edição do Cannes Film Festival, Triangle of Sadness é uma ode do cinema ao grotesco intrínseco à condição humana, que se redunda em contradições e quezílias polvilhadas, ao longo do filme, de um humor negro eximiamente conseguido, onde a hierarquia e as convenções se dissipam e o privilégio é desarranjado ao máximo.
– Sofia Pereira

 

4. After Yang, de Kogonada

After Yang acompanha um futuro (não muito distante) em que existem robôs como parte do seio familiar. Numa família, como qualquer outra, está Yang, que deixa de funcionar de um momento para o outro e que despoleta uma cadeia de acção/reacção em busca de uma “cura”, mas onde se descobre bem mais do que o procurado. After Yang é mais um dos muitos filmes estreados em sala que é ignorado pelo público, mas que revela uma sensibilidade tocante no tratamento do luto, da morte e do que significa ser humano, para além dos ossos ou da carne. Confirma, também, o talento de Kogonada na construção de uma narrativa tão contida como emocional e que mostra como o tempo é o nosso bem mais precioso.
– Pedro Ginja

 

3. Memoria, de Apichatpong Weerasethakul

Vencedor do Gran Prix do Juri em Cannes, o novo filme do mestre do slow cinema, é uma viagem pelas ruas de Bogotá e as selvas da Colômbia à companhia de Tilda Swinton, em busca da origem de um som ensurdecedor que apenas ela parece ouvir, retirando-lhe o sono, a concentração e a noção de realidade. Ao bom estilo do realizador tailandês, Memoria é um filme contemplativo e sensorial, com uma ligação profunda com a Natureza e a espiritualidade, sobre memória coletiva, mitos e fábulas, artistas e a intangibilidade das sensações. Memoria é a viagem e não o destino, é o som do trânsito frenético na cidade e o gotejar da chuva nas folhas da floresta, em que cada ruído e cada frame, em toda a sua calmaria, contêm fragmentos de uma narrativa que desafia a consciência, envolvendo o sonho e o real de tal forma que estes se tornam inseparáveis um do outro. 
– Rafael Félix


2. The Worst Person in the World, de Joachim Trier

Nunca existiram tantas tentativas medíocres em capturar a mentalidade de uma geração para o cinema e capitalizar na sua linguagem, crenças, dívidas morais e o conjunto das suas adversidades, como nesta era de serviços streaming. Joachim Trier entrega um filme similar a demasiados. Uma mulher, Julie (Renate Reinsve), à procura de significado pessoal em diversos empregos e relações amorosas. Todavia, The Worst Person in the World, atinge o impossível – retrata perfeitamente a sua geração. Como os millennials que representa, é extraordinário, laborioso, complexo e, mesmo recebendo elogios constantes, subvalorizado. Um conto de amor próprio; uma história para guardar eternamente no coração, como um álbum de fotografias.
– João Iria


1. Everything Everywhere All at Once, de Daniel Kwan & Daniel Scheinert

Puro Cinema. Um dúbio comentário de louvor sobre uma obra que inclui uma cena onde um troféu é utilizado como um buttplug. Todavia, é precisamente essa excentricidade que eleva Everything Everywhere All At Once para o topo desta lista. A dupla de realizadores, Daniel Kwan e Daniel Scheinert, encaram uma sinopse acerca de uma mulher chinesa a tentar entregar os impostos como o ponto de partida para uma experiência fundamentalmente cinemática que explora universos alternativos, trauma geracional cíclico, sonhos perdidos, o anseio pela compreensão e a procura de significado num mundo niilista, com toques de comédia, sci-fi, drama, artes marciais e terror existencial. Todos os géneros. Todas as ideias. Toda a humanidade. Esta equipa retira proveito de cada elemento técnico para elaborar um conto visionário, partilhado em frames repletos de imaginação ilimitada, cujo simbolismo se conecta à nossa relação com a internet, sétima arte e com a nossa própria existência. Everything Everywhere All At Once exibe o singular poder emocional do cinema; desvenda a presença de significado humano no coração e abre os olhos da audiência para um caminho esperançoso nesta expressão audiovisual artística e, consequentemente, para a vida. É Puro Cinema.
– João Iria

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