Durante a Segunda Guerra Mundial, Ewen Montagu (Colin Firth) e Charles Cholmondeley (Matthew Macfadyen), dois oficiais a cargo do MI5, são encarregues de conduzir a operação Mincemeat com o objetivo de enganar os nazis e impedir um massacre em Sicília. O plano mirabolante desta operação consistiu em arranjar um corpo, que seria conhecido como capitão William Martin, e largá-lo na costa espanhola com documentos confidenciais que indicavam a intenção de uma invasão a Grécia pelos aliados, enganando assim as tropas alemãs.
Uma produção Netflix, realizado por John Madden e baseado no livro Operation Mincemeat de Ben Macintyre, este é daquele tipo de histórias que parecem retiradas de um excelente livro de ficção. E com um livro base tão renomado seria inimaginável que esta produção não fosse um filme espectacular. Porém, a desorientação da história levou a que este filme ficasse aquém do esperado.
Essa desorientação supra advém do facto de John Madden ter, talvez, julgado que a operação não seria suficientemente interessante para deter a atenção do público tendo, portanto, apostado num triângulo amoroso entre Jean Leslie (Kelly Macdonald), uma secretária que ajudou na construção dos planos, e os dois oficiais. Kelly Macdonald consegue agarrar a simpatia do público quase de imediato, mas o facto da sua personagem ter sido utilizada, por diversas vezes, para afastar o filme da narrativa principal, fez com que recaísse sobre os seus ombros o ónus de mostrar que aquelas cenas seriam de alguma forma relevantes para o desenvolver da história ou das personagens; algo que raramente aconteceu.
Histórias que utilizam guerras como pano de fundo são comuns e até costumam dar obras bastante interessantes, mas neste caso, fazer do romance uma peça central na narrativa, quando se tem nas mãos uma história como esta, acaba por prejudicar demasiado o filme. A audiência passa demasiado tempo a acompanhar os dramas destas três personagens para depois, quando é necessário contextualizar o ponto de situação da guerra ou como certo passo da operação será executado, o argumento sente a necessidade de entregar exposição para compensar todo o tempo perdido. O problema não está neste aspecto dramático mas na apresentação previsível e constrangedora das resoluções, que nunca se tornam mais interessantes que a operação. Pode parecer óbvio, tendo em conta o título do filme, mas torna-se menos evidente quando se considera o tempo de tela dedicado a este arco secundário.
Apesar do filme desapontar na exploração do contexto global, como por exemplo, o ponto de situação da guerra, a rede de espiões britânicos em Espanha (um ponto vital nesta operação), ou até as consequências do sucesso, o mesmo já não acontece relativamente à política interna do país e da própria operação. John Madden transporta o público pelos variadíssimos passos da operação, representando cada aspecto como um elemento vital desta, desde um revés que pode pôr em causa o seu sucesso, até a um simples telegrama.
O filme é eficiente em deixar o público a par de como a operação é gerida e quem são os principais intervenientes, mesmo que acabe por dar a sensação que a resistência por parte dos céticos se baseava em meros caprichos. Ainda assim, o ceticismo da operação, personificado na personagem John Godfrey (Jason Isaacs), acaba por se mostrar presente nos momentos certos, dissuadindo o público a criar dúvidas, mesmo conscientes do resultado. Além deste fator, o realizador faz com que a audiência esteja constantemente ciente, que mesmo no sucesso, existe a possibilidade dos nazis não acreditarem ou simplesmente não fazerem nada em relação a esta missão.
Operation Mincemeat foca-se demasiado em romances desnecessários e em subplots que não acrescentam muito à narrativa, para ser o grande filme que merece ser. Somente quando dedica a sua atenção para a operação é que consegue extrair o melhor que este tipo de histórias tem para oferecer, como intrigas interessantes, conspirações emocionantes e uma tensão crescente que consegue deixar o público apreensivo, mesmo já sabendo o desfecho.