“Ri e o mundo ri contigo, chora e choras sozinho”.
Esta citação do poema “Solitude” de Ella Wheeler Wilcox é um pedido de humanidade durante tempos de desespero e também o tema principal de Oldboy. Um filme que revolucionou o género de vingança quando este estava associado a histórias genéricas e actores de categoria B que demonstravam o seu poder através de trocadilhos e uma frieza glorificada. O herói de Oldboy (se é que podemos chamar-lhe isso) não encaixa nesta ideia. A personagem demonstra-se principalmente como um homem desesperado por dar motivo à sua dor, e pronto a abandonar a sua humanidade por uma nova identidade de “Monstro”.
Oldboy segue Oh Dae-su (Min-sik Choi), um homem que é raptado e aprisionado num quarto de hotel, sem qualquer resposta às suas perguntas. Ele sobrevive motivado somente pelo desejo de vingança e pela descoberta da razão por trás da sua captura, até que após 15 anos é libertado e encorajado pelo raptor a obter a sua retribuição.
A sua batalha é assistida por Mi-do (Hye-jeong Kang), uma jovem que oferece a compaixão que ele acredita ter perdido durante o seu encarceramento. As duas personagens partilham esta viagem emocional, representada brilhantemente sem algemas de acting convencional, por Min-sik Choi, cuja imagem do seu sorriso perdura connosco depois dos créditos finais.
Uma adaptação do mangá com o mesmo título, Oldboy é a segunda parte da trilogia de vingança de Chan-wook Park e a entrada do mundo para o cinema especial da Coreia do Sul, vencendo o Grand Prix em Cannes e destacando-se pelo seu argumento imprevisível e estilo visual único do realizador. Este é um thriller com um elenco fenomenal, repleto de violência e com uma boa dose de humor negro, que espantou audiências na sua trágica história.
Tragédias tendem a ser consideradas como novelas, contudo este é um tema que faz parte do contexto histórico de ficção. Era um dos mais populares géneros de teatro grego, influenciando o teatro Romano que inspirou muitos dos clássicos de Shakespeare. É um dos principais temas nas suas obras, com infortúnios irónicos de justiça poética e destinos inevitáveis, caracterizados pelas suas figuras trágicas. O que Chan-wook Park consegue fazer em Oldboy é cimentar a tragédia Grega com a narrativa dramática Shakespeariana num contexto de cultura asiática com fotografia e cenários distintos.
Apesar da violência intensa deste filme, existe contexto para a compreensão das ações de Oh Dae-su que durante os seus 15 anos de cativeiro, ficou revestido de morte. A morte torna-se parte de si. Contudo, o que torna Oldboy especial, não é o sangue ou os dentes derramados, mas o seu pedido de humanidade pelas personagens e o mundo à sua volta. Esta noção romântica é refletida através da banda sonora, que utiliza música clássica e valsas para ornamentar este conto feroz com beleza e humor irónico.
Existe uma natureza clássica presente num estilo moderno que salienta Oldboy como uma obra prima. Independentemente da nossa opinião, é inevitável reconhecer que estamos perante um filme icónico que, mesmo após 17 anos, permanece memorável e singular, tornando-se parte da gramática do cinema, com falas, imagens e momentos enraizados na cultura pop, impossíveis de ignorar. Tragédia Grega adquire um novo nome e em Oldboy, Chan-wook Park revela-se como um Shakespeare cinemático.
1 comentário
[…] inerente ao sentir cada impacto físico no nosso corpo. É a tensão na cena do corredor de Oldboy (2003), de Park Chan-wook, mas em muitos mais corredores, com mais adrenalina e, obviamente, melhor […]