Oddity (2024)

de Pedro Ginja

A conexão entre irmãs gémeas exerce um fascínio especial na sociedade pois diz-se muitas vezes que parecem adivinhar os pensamentos entre si e ter uma intuição especial para quando uma delas não se encontra bem. Isto é particularmente evidente nos chamados gémeos idênticos, sendo que biologicamente provêm do mesmo óvulo fertilizado e partilham um maior número de características. Era por isso inevitável que esse fascínio fosse transposto para o cinema, em particular no género de terror. Quem não se recorda das gémeas lado a lado no fundo de um corredor em The Shining (1980)? Ou no caso de Dead Ringers (1988), de David Cronenberg, em que o termo gémeo deixa de ser como mero “adereço” do horror e passa a protagonista da sua história, em que a sua semelhança é usada para explorar todos os que os rodeiam e provocar caos no mundo circundante.

Oddity, de Damian Mc Carthy, explora esse elo mas de uma perspectiva bem diferente dos exemplos anteriores, com um dos lados da equação ausente fisicamente. Dani (Carolyn Bracken) é assassinada, em circustâncias misteriosas, em sua própria casa. A sua irmã gémea Darcy (Carolyn Bracken), cega de nascença, desconfia sobre o que se passou nesse dia e decide investigar por conta própria. Com os seus poderes psíquicos e a ajuda dos seus objectos sobrenaturais, conseguirá ela descobrir o que se passou naquela fatídica noite?

O mais recente filme de Damian Mc Carthy tem o condão de ser reconfortante mas não da maneira esperada. Opta, e bem, pela criação de uma atmosfera misteriosa em crescendo de tensão e onde não hesita introduzir, na narrativa simples de investigação paranormal, pormenores inspirados e deveras assustadores como há muito não se via no género. Quanto menos souberem sobre eles, maior o impacto será quando surgirem no ecrã. Os jump scares, parentes pobres do terror actual, e usados muitas vezes como muleta de más ideias para provocar o medo, são aqui utilizados na perfeição, e em momentos-chave, para nos enviar arrepios na espinha quando nos julgamos finalmente seguros. Nem sempre o argumento tem as opções mais lógicas nos caminhos que segue, e esse será talvez o maior ponto de contenção com esta obra criada por Mc Carthy. Mas mesmo na previsibilidade, que exibe com orgulho, nunca é menos do que competente e eficaz.

A escolha da mesma actriz, para interpretar ambos os lados desta história de gémeas, é um dos factores que mais eleva o filme. Carolyn Bracken é Dani e Darcy, nas suas semelhanças e diferenças que são fruto de um caminho de vida distinto. Enquanto Dani surge essencialmente através de flashbacks onde é evidente, mesmo assim, a força de ambas as mulheres, Dani, mesmo na sua ausência física, é essencial nas motivações e no caminho escolhido para a personagem de Darcy. A fraqueza de Darcy, de ter nascido sem o dom da visão, é compensada com uma visão premonitória de eventos passados, nunca explicada, e que adiciona mais um factor de mistério na narrativa, fundamental para comprometer o espectador com o seu final. Essa força na fragilidade é visível no uso fenomenal que dá à sua voz, ora apaziguador e reconfortante ora hostil e ameaçador quando provocada. É arriscado dar à heroína uma faceta negra e intimidante, mas esta é mais uma aposta ganha, resultado também da capacidade e talento de Carolyn para equilibrar ambas as facetas. Vislumbramos um futuro brilhante para a actriz se fizer as escolhas acertadas nos próximos projectos.

Oddity trilha caminhos familiares para os fãs do terror clássico, assente na simplicidade da sua premissa inicial, na personagem principal enigmática e na criação de um ambiente sinistro e perturbador. A sua previsibilidade e conclusão anunciada, bem antes do final, poderá desiludir alguns, mas não deixa de tornar Oddity um dos mais assustadores filmes de terror dos últimos tempos.

3.5/5
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