Após um ano de interregno motivado pela dentada marota de um morcego num suíno, o cinema volta a reunir-se na Croisette para mais um Festival Internacional de Cannes, que, embora se preveja atípico como tantos outros eventos nos últimos 18 meses, irá manter alguns dos elementos que fariam parte da edição adiada no ano anterior.
Para começar o homem mais bem vestido a passear-se pelo Sul de França será Spike Lee que irá manter o seu lugar como Presidente do Júri que também inclui nomes como Mati Diop, Maggie Gyllenhaal, Kleber Mendonça Filho ou Song Kang-ho. Além disso alguns filmes que estariam em destaque durante o ano de 2020 e que viram a sua estreia adiada, mantiveram a sua proposta inicial e têm estreia marcada em Cannes, como é caso o novo filme de Wes Anderson, The French Dispatch que conta com alguns dos seus colaboradores habituais como Bill Murray, Adrien Brody e Owen Wilson a juntar-se a Benicio Del Toro, Timothee Chalamet e Tilda Swinton.
No entanto, não é só o realizador de Grand Budapest Hotel que merece destaque nesta edição, bem pelo contrário. O filme de abertura, que tem inclusive estreia marcada em Portugal, Annette, o trabalho que irá suceder ao brilhante Holy Motors de Léos Carax conta com Adam Driver, Marion Cotillard e Simon Helberg e com a música vibrante dos Sparks promentendo ser um dos musicais mais peculiares do ano, não fosse ele realizado por uma das mentes mais distintas do cinema Europeu.
Além de Carax, outras caras conhecidas do festival voltam a pisar o Palais para apresentar os seus novos trabalhos. Jacques Audiard é um deles, com um regresso aos filmes em língua francesa em Les Olympiades e François Ozon vai também apresentar Tout s’est Bien Passé, o seu segundo filme em pouco mais de um ano. Asghar Farhadi regressa também após três nomeações à Palme D’or com A Hero, Sean Baker apresenta o seu Red Rocket e cinco anos depois do sucesso de Raw, Julia Durcounau vai finalmente exibir o seu sucessor, Titane.
Com tanto cinema de qualidade, razões não faltam para estarmos atentos ao que se vai passar pelo Sul de França nas próximas semanas num festival que vai ficar marcado, não só pelas próprias condições logísticas a que está sujeito, obrigando celebridades e jornalistas a cuspir em copos mais vezes do que aquelas que os putos cuspiam quando andavam no 6º ano, mas também pela exibição de David Byrne’s American Utopia nas sessões junto à Praia e o prémio honorário a Jodie Foster pela sua brilhante carreira, não só como atriz e realizadora mas também como uma mulher fiel às suas causas.
O Festival de Cannes termina no dia 17 de Julho com a exibição de OSS 117: From Africa With Love.