O Pai Tirano (2022)

de Rita Sousa

Em 1941, António Lopes Ribeiro realizava O Pai Tirano, um filme que viria a ser considerado como o “Melhor Filme Português de Sempre”. Oito décadas mais tarde, João Gomes cria uma nova versão da obra.  As histórias mantêm-se as mesmas, e o período histórico também. Regressamos à Lisboa dos anos ’40, e a um dos pontos mais emblemáticos da cidade: os Armazéns Grandella. É lá que se encontram todos os participantes do filme.

O primeiro a aparecer é o mestre Santana (José Raposo), trabalhador na sapataria, que dirige o grupo de teatro “Os Grandelinhas”, onde além de ator, também é dramaturgo e encenador das peças. Com ele trabalha Chico Mega (Miguel Raposo), apaixonado por Tatão (Jessica Athayde), trabalhadora da perfumaria. Esta, no que lhe concerne, não liga muito ao jovem, preferindo a companhia de Artur de Castro (Diogo Amaral) devido à sua carteira recheada. Como Tatão é uma fervorosa cinéfila, Chico esconde-lhe que é ator num grupo de teatro amador: do grupo fazem também parte Gracinha (Carolina Loureiro), apaixonada por Chico, Dona Cândida (Mafalda Vilhena), Lopes (Igor Regalla), Seixas (Marcantonio Del Carlo), e o Pinto (Diogo Valsassina). O grupo decide levar à cena a peça “O Pai Tirano ou o Último dos Almeidas”.

Se na história original o argumento era repleto de piadas que satirizavam a pequena burguesia portuguesa, nesta nova versão o cómico perde-se, tendo o filme em muitas partes um tom futurista que chega a ser importuno. Pode mesmo dizer-se que para um filme que se apresenta como comédia, tem muito pouco disso no seu texto.

Não é a primeira vez que um clássico dos anos ’40 ganha um nova adaptação. Leonel Vieira já o fizera ao produzir O Pátio das Cantigas (2015), O Leão da Estrela (2015) e A Canção de Lisboa (2016): a sua trilogia “Novos Clássicos”. Porém, há que referenciar que João Gomes criou um filme de época, algo interessante visto que conseguiu dar ao filme novos espaços de atuação. Os locais escolhidos para realização das cenas remetem para o tempo do filme, porém, e talvez por serem tão comuns, criam no espectador um certo distanciamento da história.

Ainda assim, o ritmo é sempre acelerado, tornando a sequência de acontecimentos mais fluida. Também o som ajuda neste processo, salvo os momentos em que o filme peca pela falta de qualidade na captação das falas dos atores. São algumas as alturas em que não se percebe claramente o que é dito.

Sobre o elenco, não há muito a apontar, mas ficou aquém ao nível cómico. Encabeçado por José Raposo, ator proveniente da comédia de revista assim como diversos atores da versão original, esperava-se um pouco mais de qualidade na entrega das falas, embora o texto em si não ajude.

Pode dizer-se que esta nova versão de O Pai Tirano cumpre com os mínimos exigidos de qualquer adaptação. Segue a história original, mudando-lhe um pouco o argumento, mas nada mais. Não se pode dizer que seja mau, mas com certeza não é uma obra-prima da cinematografia nacional. Ficamos ali no meio.

3/5
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