Nowhere Special (2021)

de Pedro Ginja

O que faria pelo seu filho? A resposta a esta pergunta é “tudo e mais alguma coisa” sem hesitação. E se fosse necessário encontrar uma família para ficar com o nosso filho após a nossa morte? John (James Norton) é um doente terminal (de uma doença nunca especificada) com poucos meses de vida para encontrar a família perfeita para o substituir como pai de Michael (Daniel Lamont). E que conceito é esse da família perfeita? Será possível substituir um pai ou uma mãe? São muitas as questões levantadas durante o filme sobre o que é ser pai e sobre o que um filho realmente necessita na vida, focando-se principalmente naquilo que é uma parentalidade positiva, consciente e saudável para o desenvolvimento de uma criança.

Uberto Pasolini traz-nos esta história comovente de um homem com uma responsabilidade tremenda enquanto tenta proteger o filho de uma realidade difícil de explicar a uma criança. Esta é a terceira longa-metragem de Pasolini após Machan (2008) e Still Life (2013) e apesar da sua estreia mundial ter sido no festival de Veneza de 2020, o filme apenas estreou nos cinemas do Reino Unido em Julho de 2021 e chega finalmente às salas nacionais em 2022.

A premissa por detrás de Nowhere Special (Sempre Perto de Ti, em português) é deveras interessante e coloca questões muito pertinentes no que é ser pai e, acima de tudo, da responsabilidade sobre os ombros de quem educa os seus filhos. James Norton e o estreante Daniel Lamont encabeçam um elenco competente na transmissão da emoção da história. Daniel Lamont tem de ser referido com um destaque especial, por ser tão complicado ter actores “de palmo e meio” com qualidade suficiente para demonstrar algum tipo de coerência e, ao mesmo tempo, transmitir algum tipo de emoção. Daniel nem sempre o consegue mas com a ajuda do argumento, e também do próprio Pasolini, tem a sensibilidade para optar por um caminho mais minimalista e evitar o polimento exagerado das suas acções. O que é pena é não o conseguir em todos os momentos e ter de recorrer a cenas que parecem tiradas de um drama qualquer sem chama ou personalidade. James Norton é competente no papel de um pai em declínio bem visível e aponto também uma breve referência para Eileen O’Higgins que num papel minúsculo de poucos minutos consegue fazer brilhar o seu talento. 

Em termos dos potenciais pais de Daniel, o filme atravessa um reforço de estereótipos de “pais perfeitos”, enquanto alguns surgem como caricaturas sem qualquer dimensão humana. Em termos visuais nada o distingue de outras produções sobre famílias dilaceradas e quando aparenta querer criar uma identidade visual apelativa torna-se repetitivo, como a utilização constante de planos de reflexo em espelhos.

Nowhere Special tem momentos especiais com uma sensibilidade tocante e aborda temas raramente discutidos em filmes deste género, como a importância da igualdade parental e de como o estatuto social não é garantia automática de uma infância feliz ou a indiferença dos serviços sociais no bem-estar real da criança, mas acaba por desiludir na execução e no modo como nos é apresentado, por vezes inspirado e demasiadas vezes a jogar apenas pelo seguro. É sempre desapontante quando o potencial para a grandeza está lá mas faltou a coragem de optar por caminhos menos óbvios mas mais pertinentes. 

2.5/5
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