Baseado num documentário de 2014, com o mesmo título, Next Goal Wins é a mais recente longa-metragem de Taika Waititi, que ficciona uma história verídica e redefine a expressão “underdog”.
A seleção de futebol de Samoa Americana é oficialmente a pior equipa do mundo. Depois de perder 31-0 num jogo de apuramento para o mundial da modalidade, ficou nas bocas do mundo pela sua incompetência. Mas nem a pior derrota pode impedir um povo de sonhar, e esse sonho leva um treinador conceituado, em decadência devido a problemas disciplinares, a chegar a esta ilha com o objectivo de marcar o primeiro golo, e conseguir a primeira vitória de sempre para esta seleção.
Michael Fassbender, como o treinador Thomas Rongen, lidera a equipa de futebol e também o elenco, tendo a oportunidade para ir além do que é habitual quando se retrata uma pessoa real no cinema. É um actor de topo a divertir-se, o que transparece no ecrã, sendo um sentimento replicado e alimentado pelo resto do elenco, em especial Oscar Kightley que interpreta Tavita… bem, o faz tudo da Samoa Americana, uma personagem hilariante. Elisabeth Moss é outro nome forte a ser mencionado e apesar de não ter muito tempo de cena é interessante vê-la num registo muito mais descontraído.
Com o humor típico das produções de Taika Waititi, este é um filme que não se leva a sério e, por isso, nos faz rir bastante. Por outro lado, quando nos é pedido que façamos o nosso mais sincero “ohhh até tenho a lágrima no canto do olho” torna-se difícil fazê-lo, precisamente porque já estabelecemos nas nossas mentes de que esta história não é assim tão importante quanto as suas piadas. Existe por norma um equilíbrio difícil de alcançar entre a comédia, sobretudo a mais nonsense, e as emoções mais profundas, mas o realizador neozelandês atingiu o apogeu desse equilíbrio com Jojo Rabbit (2019). Desde então, Thor: Love and Thunder (2022) perdeu imenso em relação ao sucesso de Thor: Ragnarok (2017), e agora Next Goal Wins fica aquém do documentário que primeiro revelou esta história. Não faltam momentos divertidos, sátira, e exageros de algo que já por si era exagerado (todos conseguimos perceber que para uma equipa perder um jogo de 90 minutos por 31 – 0 é preciso ser bastante amador), no entanto não tem verdade suficiente para nos agarrar quando a linha narrativa teoricamente atinge o clímax de empatia. Fica para segundo plano qualquer assunto mais delicado, e há vários, e em primeiro plano está tentar fazer rir. Nada de errado nisso, ainda assim, tendo em conta a matéria-prima em mãos, tanto dos acontecimentos reais, como do elenco, era de esperar que fosse mais completo, mais impactante.
Luto, transexualidade, união de uma comunidade em momentos de fracasso, são tudo tópicos tocados no filme, sem que nenhum se desenvolva ao ponto de ter protagonismo no enredo. É verdade que, no fim de contas, estamos a falar de uma equipa de futebol que pretende marcar o seu primeiro golo num jogo oficial, logo não é de estranhar nem desencorajar que se aborde a temática com leveza e humor, porém era possível adicionar outros ingredientes ao produto final que nos levariam a incluir esta obra num lugar especial na lista de filmes que nos fazem acreditar no impossível e no poder da empatia.
Se gostam desta premissa aconselho vivamente o documentário de 2014, e se gostam de Taika Waititi aconselho praticamente tudo o que ele tem feito tanto no cinema como na televisão/streaming. Next Goal Wins não será o produto mais fiel ao potencial do super criativo e multifacetado Mr. Waititi, mesmo que não fuja do registo humorístico mais comum e associável a si.