Edmond Murray (James McAvoy) recebe uma chamada da sua ex-mulher, Joan Richmond (Claire Foy), com a terrível notícia de que o filho de ambos está desaparecido. Começa assim uma busca incessante que os leva ao desespero e a arriscar tudo para poderem voltar a respirar de alívio.
Há um aspecto que torna My Son num filme peculiar, sendo esse que James McAvoy não recebeu o argumento do filme e improvisou todas as suas falas, sabendo unicamente o ponto de partida para a história e a sua personagem, enquanto que todo o restante elenco tinha acesso ao enredo. Os outros atores tiveram “apenas” que reagir ao que James disse ou fez no primeiro take de cada cena (de um modo geral cada cena não teve mais do que um take), e a partir daí a história seguiu, sempre dentro das ideias centrais do guião. Não é um método novo, até porque esta é uma adaptação do filme Mon Garçon (2017), já na altura com a mesma proposta para o protagonista, com o objectivo de tornar a reação do ator mais espontânea e eventualmente mais próxima do que será a de um pai que toma decisões com o peso de poderem determinar o destino do seu filho de 7 anos, sem conseguir prever as consequências dessas decisões.
James McAvoy é na verdade, o grande trunfo de My Son, estando presente em praticamente todas as cenas do início ao fim, sempre num nível altíssimo, nível esse que é o habitual no actor escocês. Há momentos que fazem lembrar Hugh Jackman em Prisoners (2013) e Matthew McConaughey em Interstellar (2014), com um grau de intensidade condizente com as circunstâncias. O filme traz à audiência uma espécie de jogo potencialmente curioso: olhar para cada cena e observar os momentos em que apanhamos McAvoy a ser surpreendido com um twist ou um novo elemento do argumento, e até imaginar outros caminhos possíveis para as mesmas cenas, como um Black Mirror: Bandersnatch (2018), mas com as opções alternativas a serem criadas por nós e a viverem só no nosso imaginário.
Claire Foy é uma actriz do mesmo calibre de James, então não surpreende que esteja à altura do desafio, como uma mãe que estava a tentar recomeçar a sua vida e que se vê arremessada para o abismo com o desaparecimento de Ethan (Max Wilson). Não há nada a apontar pois é uma perfomance sólida e bem conseguida no complemento que faz com Edmond. O olhar, na maior parte das cenas, dizia mais do que os diálogos.
O que me faz agora focar no ponto mais fraco do filme, o seu argumento. Naturalmente a ideia é muito interessante e capta vários momentos genuínos e espontâneos que resultam sempre bem e fazem sentido naquela que era a intenção do realizador, Christian Carion, porém os diálogos estão longe de serem ricos, e mesmo a sequência de eventos não revela nada de novo. O resultado final é um filme que cumpre, mas que não fascina, longe do já mencionado Prisoners ou de um The Lovely Bones (2009), por exemplo.
Em conclusão, o elemento mais curioso do filme é também o factor que torna o argumento no elemento mais frágil. A música competente que acama tanto as cenas dramáticas como de tensão e suspense não chega para apagar a falta de preparação para os diálogos, e as pontas soltas que nunca chegam a ser encontradas até ao final. Algumas questões que facilmente colocamos ao ver My Son não são respondidas, criando a sensação de termos assistido a um filme razoável, com uma excelente interpretação de todos, (em especial de James McAvoy, provando ser um dos melhores da sua geração) mas ainda assim incompleto.