Pergunta para um aplauso virtual e um like invisível: o que é que Star Wars (1977-2019), Jurassic Park (1993-1997), Jaws (1975), Indiana Jones (1981-2023), Harry Potter (2001-2004), Superman (1978), Saving Private Ryan (1998), Catch Me If You Can (2001), Schindler’s List (1993), E.T. the Extra-Terrestrial (1982) e Home Alone (1990) têm em comum? Se a resposta foi Steven Spielberg recebe uma menção honrosa pela tentativa, já que, de facto, muitos dos filmes mencionados são do icónico realizador. Mas a resposta certa é mesmo, imagine-se, John Williams, compositor musical de todos os filmes já mencionados e muitos mais com ligação directa aos nossos corações, tenha o ser vivo que está a ler este texto 10, ou 90 anos.
Um documentário que homenageia o trabalho de uma figura incontornável do cinema é, desde já, meio caminho andado para ser bastante bem recebido, mas fazê-lo enquanto o homenageado está vivo e participa do filme para dar o seu testemunho pessoal merece sempre respeito e admiração. Imaginar John Williams em casa a assistir a este documentário com os seus filhos e netos, deixa um quentinho no coração de todos os que têm coração. Music by John Williams centra-se na vida do lendário músico a partir do momento em que a música começou a fazer parte dela até à actualidade, portanto vai desde criança até aos seus longos e frutíferos 92 anos.
São várias as personalidades do cinema e da música que oferecem a sua história e conexão particular com Mr. Williams, entre elas, Ron Howard, Chris Martin, George Lucas, Seth MacFarlane, J.J. Abrams, mas indiscutivelmente há uma que do início ao fim dá a mão à carreira do seu amigo John e leva-nos a passear com ela. Incontornavelmente essa pessoa só poderia ser Steven Spielberg. Inúmeras cenas intemporais, que imediatamente nos remetem a alguma memória cinematográfica agrafada às nossas vivências, resultam da colaboração dos dois. De The Sugarland Express (1974)a The Fabelmans (2022), a parceria é sem dúvida épica e irrepetível.
Existem razões que sobra para querer ver Music by John Williams, seja curiosidade pelo lado mais intimista do homem que reside (para nós, público) atrás do artista, seja para ver John Williams em acção no seu piano explicando o quão simples são os temas que todos adoram, seja conhecendo com maior detalhe a sua relação com os diferentes realizadores com quem trabalhou na sua carreira, seja para nos relacionarmos com o facto de ser através da arte que expressa os seus sentimentos, mais do que através de palavras. No entanto, o que seguramente fica connosco é a nostalgia. Reconhecer em cada nota uma emoção que transbordou de nós, uma imagem que guardamos na nossa mente como quem guarda uma fotografia de um ente querido, histórias que têm melodia, tocam todos os nossos instrumentos emocionais, numa orquestra comandada pelo maestro Johnny, como era conhecido antes de entrar no universo do cinema.
O que fica e não sairá enquanto houver memória de um de nós, é a importância da música no cinema e do cinema nas nossas vidas. Da presença tão vincada na aprendizagem do que ninguém nos ensina na escola. A aprendizagem eterna, assim queiramos, da pauta do que é ser humano, a clave de sol do que é reconhecer amor, tragédia ou humor. Um filme traz consigo a magia de várias artes combinadas que, num milagre de funcionarem como um todo, espalha em quem o vê o milagre de nos aproximar da realidade calada dentro de nós. E isso diz muito do que passamos a ser depois de vermos algo que mexeu connosco. Somos nós na mesma, mas diferentes, mais nós, porque nos conhecemos um pedacinho melhor do que antes dos créditos finais aparecerem.
Uma carta de amor, um filme de amor à música nos filmes é o que se pode esperar de Music by John Williams. Um ataque de tubarão, um extra-terrestre a voar numa bicicleta, ou um jovem feiticeiro a enfrentar o seu poderoso arqui-rival, nunca teriam o impacto que têm no nosso imaginário não fosse o auxílio vital da música. Um abraço de formas de expressão artística que nos inclui neste documentário necessário e justo sobre uma pessoa que apesar de estar mais na sombra do que os actores e realizadores que dão a cara aos projectos, tem igual relevância para que essas obras sejam parte integrante do nosso crescimento. Na banda sonora da minha vida haverá sempre lugar para John Williams, quer seja um tema com uma orquestra conduzida por si, ou duas notas num piano que nos deixam com pele de galinha.