Estranhamente atirado para a plataforma de Streaming da Disney, a mais recente adaptação live action dos filmes da era da Renascença do Rato Gigante, Mulan apresentou-se com uma abordagem próxima daquela que resultou no desinspirado Dumbo de Tim Burton. A ideia é dar uma perspetiva realista ao original de 1998, que é facilmente um dos melhores filmes de animação dos anos 90, retirando-lhe Muchu, a música, e claro…o charme. Como costume.
A premissa é a mesma que o seu antecessor: Mulan, uma jovem rapariga na China Imperial, faz-se passar pelo seu pai para poder juntar-se ao exército na guerra contra os Rounan, que têm apenas um objetivo: destruir o Imperiador, aqui protagonizado por Jet Li (?).
Em 2019 senti uma parte de mim morrer durante aquelas penosas duas horas de The Lion King e senti-me extraordinariamente aborrecido com a paupérrima adaptação de Aladdin, portanto a fasquia para Mulan dificilmente poderia estar mais baixa. Dito isto, não é, nem de perto, tão mau como estes.
Embora longe de brilhante, distancia-se o suficiente do original para ser mais fácil avaliá-lo como a sua própria entidade, o que já mostra mais bom senso do que aquele que a Disney teve com outras adaptações. Dá para ver que houve o cuidado de trabalhar bem os sets e em tornar este mundo palpável, da mesma forma que o original o fez através da sua animação banhada por tratos orientais. Mas isso é a única coisa que se destaca de forma mais positiva.
Embora os temas do original estejam lá, parecem mais aguados e sem o fervor ou a emoção que fizeram as plateias regressar ao filme vezes e vezes sem conta ao longo dos últimos 20 anos. Além disso, a introdução de uma mecânica de “super-poder”, retira mais do que aquilo que acrescenta, porque desta vez não vemos Mulan a lutar e a suar para ganhar o seu lugar naquele “mundo de homens”, numa história que gritava os seus valores sem nunca parecer que os estava a martelar na cabeça de quem via o filme, aqui a nossa heroína já nasce com algumas habilidades especiais, um “chi de guerreiro”, e aos 12 anos já é o cruzamento genético entre o Bruce Lee e um acrobata do Cirque du Soleil. Assim se perde alguma da empatia que se podia ter com a personagem e a história, principalmente quando, por razão nenhuma, é decidido que Mulan tem as capacidades de liderança do maior General da China, embora só tenha vestido uma armadura cerca de um mês antes. Não só se forçou a corda, como se a cortou com uma serra elétrica.
Ou seja, temos um guião em serviços mínimos. No entanto, é um filme que custou 200 milhões de dólares. Onde está o dinheiro? É a grande questão. Porque as sequências de batalha têm o mesmo impacto das representações da Batalha de São Mamede na feira Mediaval de Castro Marim, mas com mais slow-motion e bastante mais aborrecidas. Estas mesmas cenas são ainda pontuadas com alguns momentos de gigantesca incompetência no que toca montagem, que garantidamente vão saltar à vista de quem está a ver, mesmo que quem esteja a ver, esteja completamente alcoolizado.Ainda assim, não é de todo o pior filme do ano. Não há charme. Não há nada particularmente vistoso ou bem feito. Mas não é The Lion King e só por isso já me dou por satisfeito. É descartável e a tempos aborrecido, mas não é mau. Só incrivelmente medíocre.