Mother and Son (1997)

de Janai Reis

O Artista Sokurov

A narrativa do filme não é nada mais, nada menos, do que a sua sinopse: “um homem vai caminhar pelos campos com a mãe no leito da morte”. Apenas com dois personagens, escassos momentos de diálogo e um caminho a ser percorrido entre campos verdes. Pouco mais de 1 hora de filme. Desta premissa somos levados não só para as profundezas da ética e da moral, como também para bem perto da intimidade do tempo. Mother and Son (Мать и сын) é um poema da velha guarda que induz involuntariamente ao pensamento filosófico.

Tratado com um carinho imensurável, o filme traz uma estética inconfundível. Querem pinturas no cinema? Aqui está. Mother and Son é uma pintura em movimento. A fotografia é fenomenal: desde a cor às distorções das lentes, dos enquadramentos aos cantos esbatidos – provavelmente usando técnicas de pintar ou borrar a própria lente ou filtro com tintas ou simplesmente com vaselina. Um filme com um tom suave e onírico. Planos que fazem lembrar o Impressionismo de Monet.

Em Mother and Son os sons também são música. Encontra-se carregado por uma contida e bela banda sonora repleta de pormenores que, ainda que não demos conta em escuta passiva, estão lá e não fogem à coerência da obra. Se no cinema o melhor som é aquele que não se ouve, neste filme tanto o som como a música são elementos que provam esta teoria e não só conseguem suportar a atmosfera onírica das imagens, como criam imagens auditivas do mesmo tom.

É também com a simplicidade da narrativa que Sokurov mostra a destreza da sua realização. Com planos longuíssimos que dão tempo para observar, saborear e respirar toda a atmosfera – envolvendo-nos, assim, levemente com obra – e com escalas que fazem crer que nenhuma outra escala seria mais adequada do que a que nos é apresentada, Mother and Son mostra um grau de maturidade cinematográfica enorme. Uma dança entre o espaço e o tempo, de cair nos braços de Morfeu. Criar uma relação com o filme é algo que pode ser, na realidade, demorado – tendo em conta que o tema e o ritmo são lentos – mas que não é sentido dessa forma pelo simples facto de que tudo neste filme parece estar em harmonia.

É a harmonia de todos os elementos técnicos e artísticos que fazem desta obra algo especial. Estamos perante um poema, um quadro, uma música… um cinema que traz consigo toda a fragilidade e inutilidade da arte. Uma experiência sensorial notável que cresce a cada dia que passa. Descrever sensações por palavras ao opinar sobre um filme, normalmente, já é uma tarefa exigente por si só. Falar de um filme tão poético e sensorial é sem dúvida um desafio. Este filme é um caso para aclamar o “ver para crer”.

Charles Bukowski, no seu livro Notas de um Velho Nojento (1969), diz: “Um intelectual é um homem que diz uma coisa simples de uma maneira difícil; um artista é um homem que diz uma coisa difícil de uma maneira simples”. Se seguirmos a máxima do poeta, poderemos facilmente afirmar que, tendo em conta a obra Mother and Son, Sokurov é um artista absoluto.

5/5
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