Contam-se sete dias e mais de uma centena de filmes, entre tantas outras actividades que sublinham o cinema de terror em toda a sua grandiosidade. Às já anunciadas exibições de A Semente do Mal e de Infinity Pool soma-se a estreia mundial de duas longas, a turca The Funeral e a francesa Hood Witch. Pelo Cinema São Jorge, além de Brandon Cronenberg, marcam presença os cineastas Anurag Kashiap (Índia), Paul Urkijo Alijo (Espanha) e Jacqueline Castel (Canadá). Ainda na edição de 2023, o MOTELX comemora os 100 anos do filme português Os Olhos da Alma, com música original e ao vivo de Surma, e faz um cruzamento com o Festival GUIÕES.
Contagem decrescente para a degustação da ementa da muito aguardada 17ª edição do MOTELX. De 12 a 18 de Setembro, no Cinema São Jorge, o regresso ao universo do melhor do terror faz-se com muita expectativa, no que será uma nova e inquietante viagem pelo passado e pelo presente, com pistas para o futuro, do que de mais aterrorizante se produz para o grande ecrã. Logo no primeiro dia, o arranque oficial dá-se com a exibição do francês The Animal Kingdom, a segunda longa-metragem de Thomas Cailley, protagonizada por Romain Duris. Com laivos de body horror, trata-se de uma jornada de um pai e filho num país em estado de sítio, devastado por um vírus implacável que transforma humanos em animais. Na cerimónia de encerramento, a 17 de Setembro, o caos volta a ser provocado por causas naturais no novo e segundo eco-terror do parisiense Just Philippot, Acid, onde o egoísmo humano se revela num momento de pânico absoluto, assim que nuvens negras de chuva ácida invadem os céus de França.
No decorrer da edição de 2023 do MOTELX, há mais catástrofes em plena natureza a estrear, como Lovely, Dark, and Deep, uma produção portuguesa e americana, filmada em Portugal, com a realização de Teresa Sutherland, a fotografia de Rui Poças e, no papel principal, Georgina Campbell (Barbarian).
Também nas propostas do Serviço de Quarto, que percorre os cinco continentes, estão: a tensa odisseia pelo submundo violento da periferia de Casablanca, no marroquino Hounds, de Kamal Lazraq; o novo delírio visual do realizador francês Bertrand Mandico, Conann; e o medieval Irati, assente na história do País Basco, de Paul Urkijo Alijo. Este cineasta espanhol regressa ao Festival para se encontrar com o público e junta-se ao rei do neo-noir de Bombaim, Anurag Kashyap, que apresenta mais um épico gangster movie, intitulado Kennedy, na fronteira entre o hitman e o serial killer, à estreante canadiana Jacqueline Castel, com o seu conto de licantropia feminina em My Animal, e ao já confirmado Brandon Cronenberg, que vem apresentar, em exclusivo no MOTELX, o director’s cut de Infinity Pool (dia 15). Na mesma secção, um arrasador festim de cinema asiático, com uma forte representação da Coreia do Sul – New Normal, The Childe e Project Wolf Hunting -, e de Hong Kong – Yum Investigation, Mad Fate e Detective vs. Sleuths.
Ao lado do português A Semente do Mal, de Gabriel Abrantes, em estreia absoluta no velho continente (dia 16), distinguem-se duas estreias mundiais na competição Méliès d’argent – Melhor Longa Europeia: a história de amor entre um jovem transportador de cadáveres e uma zombie em The Funeral (Turquia), de Orçun Behram, que apresenta o filme no Festival, e a caça às bruxas em Hood Witch (França), de Saïd Belktibia. O lituano Pensive, de Jonas Trukanas, o britânico Raging Grace, de Paris Zarcilla, o austríaco Smother, de Achmed Abdel-Salam, e o dinamarquês Superposition, de Karoline Lyngbye, completam a ementa da competição. A secção Doc Terror continua bem servida com Mister Organ, de David Farrier (Tickled), mas também com [REC] Horror Without a Pause, de Diego López, que aprofunda a herança de [REC], um dos maiores clássicos de terror espanhol, 15 anos após a sua estreia, e We Kill for Love, uma obra definitiva e imperdível sobre a ascenção e queda do thriller erótico americano, dirigida e escrita por Anthony Penta.
Com as luzes apontadas para a vanguarda do terror, a SectionX destaca mais uma longa-metragem: Residency, de Winnie Cheung, uma delirante viagem punk DIY ao inferno. Para o último dia (18 de Setembro), o MOTELX e o projecto FILMar prepararam uma celebração única dos 100 anos de Os Olhos da Alma, de Roger Lion, com a banda sonora original e interpretada ao vivo por Surma, composta a pensar na ocasião. O cine-concerto ilustra o centenário deste desconhecido épico português, escrito e produzido por uma pioneira do cinema em Portugal, Virgínia de Castro e Almeida. A sessão integra um conjunto de 10 obras, entre longas e curtas-metragens, da secção Quarto Perdido, em colaboração com o projecto FILMar, operacionalizado pela Cinemateca Portuguesa.
A 9.ª edição do GUIÕES – Festival do Roteiro de Língua Portuguesa (13 a 17 de Setembro), que decorre em paralelo com o MOTELX, além de divulgar o vencedor do Prémio MOTELX GUIÕES para o melhor argumento de terror português (dia 13) e de promover uma masterclass com o produtor brasileiro Rodrigo Teixeira (dia 15) com a apresentação de The Witch de Robert Eggers, conta também com uma conversa à volta do impacto da sequela Gritos, dinamizada por Tota Alves e Fernanda Polacow, associadas e dirigentes da MUTIM – Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento. Da programação, destaca-se ainda o debate sobre inteligência artificial, moderado por Paulo Portugal e com a participação de José Pacheco Pereira, Rui Neto Pereira, Patrícia Akester e Bruno Carnide, em parceria com a APAD – Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos.
Outro encontro a não perder, dentro do MOTELX Lab, é a apresentação exclusiva do colectivo artístico Liquid Sky, liderado pelo músico e produtor alemão Ingmar Koch (AKA Dr. Walker), cujo estúdio vanguardista se situa no Baixo Alentejo. A 16 de Setembro, vai mostrar em primeira mão a concepção do seu próximo projecto, aliado aos conceitos de sustentabilidade e de inteligência artificial: um programa de televisão, On Bloody Paths, produzido 100% em Portugal, com o cenário alentejano como pano de fundo, que resulta de uma mistura entre o dadaísmo, o surrealismo, o mistério aterrorizante e a techno pop art pulsante e moderna.
Em 2023, o Lobo Mau visitou o Projeto CoolBrave, da Instituição Pressley Ridge, para um workshop de cinema orientado pelo Bernardo Gramaxo (The Takes), parceiro da secção de longa data. Numa sessão organizada no Auditório da Escola Dr. Azevedo Neves, um grupo de 11 crianças improvisou uma história onde puderam desmistificar e enfrentar os medos ao mesmo tempo que encenavam e documentavam a experiência. O resultado final será exibido numa sessão cujo foco será filmes realizados e/ou protagonizados por jovens e crianças. E, porque este ano se celebra o centenário da animação portuguesa, várias curtas nacionais estarão presentes nas duas sessões de Sustos Curtos. As sessões de cinema contarão ainda com a exibição da longa-metragem brasileira Perlimps, de Alê Abreu, estreada no Festival de Annecy de 2022.
Como não podia deixar de ser, o amuse-bouche do MOTELX serve-se no Warm-Up, de 7 a 9 de Setembro: The Birds, obra-prima do mestre do suspense, Alfred Hitchcock, que sopra 60 velas numa sessão de cinema ao ar livre, no jardim do Campo das Cebolas (quinta-feira, dia 7); a homenagem ao realizador William Friedkin, através da exibição de Leap of Faith: William Friedkin on The Exorcist, de Alexandre O. Philippe – um ensaio sobre O Exorcista (um clássico maior do terror, prometido no Festival, que, este ano, comemora meio século) -, no jardim do Goethe-Institut Lisboa (sexta-feira, dia 8); e a invasão ao Palácio do Grilo, com uma performance literária e uma festa até de madrugada (sábado, dia 9), são os aperitivos perfeitos para a intensa programação que se aproxima. A entrada é livre, excepto a festa que tem o preço de 10€ (compra online) e 12€ (no local).
Os bilhetes que dão acesso às sessões e actividades da 17.ª edição do MOTELX estão disponíveis, a partir da próxima semana, na Blueticket. De 12 a 18 de Setembro, no Cinema São Jorge, o terror é o assombroso prato do dia.
Sabe mais em sobre a 17ª edição do MOTELX em www.motelx.org
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