“There comes a day when you’re gonna look around and realize happiness is where you are.”
Acho seguro dizer que estamos na década das sequelas e live actions. Moana 2 (Vaiana 2 em Portugal), dos realizadores e realizadora: Dana Ledoux Miller, Jason Hand e David G. Derrick Jr, apresenta-nos o seguimento das aventuras de Moana no primeiro filme. Nesta sequela, a personagem principal tem como cargo desbravar os mares à procura de sinais de outras ilhas, outras comunidades. Descobre, ao entrar em contacto com os seus antepassados, que para conseguir alcançar esse objetivo, precisa de quebrar uma maldição que está a criar uma espécie de barreira a todas essas ilhas de se cruzarem e conhecerem.
Moana (voz de Auli’i Cravalho na versão original) agora tem uma irmã, Simea (Khaleesi Lambert-Tsuda), que enfatiza algo novo na nossa personagem principal. Antes queria tanto sair daquela ilha e conhecer o mundo mas agora dá por si com receio de se aventurar, por poder não voltar. Aqui é onde considero estar um dos elementos mais interessantes do filme: esse contraste que vem com a maturidade de perceber o valor do que temos. Isto dá-se, principalmente, por agora, também, Moana estar consciente dos riscos que existem em assumir um papel de grande responsabilidade.
Numa nota mais nostálgica e algo que refleti durante este visionamento, é o facto dos filmes da Disney acabarem por crescer connosco. Para quem viu Moana, em 2016, e era adolescente (como foi o meu caso), revê-se nesta ânsia de sair de casa dos pais e de conhecer mais do mundo lá fora, como na procura da sua identidade, pela qual Moana também passou. Agora neste segundo filme, já todos crescemos e nos encontramos em fases diferentes de vida, com uma maior maturidade e consciência das responsabilidades que crescer traz e o quão difícil elas se podem tornar (sentindo também maiores dificuldades em estar longe da família).
O filme em si é uma experiência agradável, os visuais e a animação, como sempre, estão espetaculares: o movimento dos cabelos, as luzes florescentes a reluzir dentro do mar, o movimento da água e a sua translucidez… Contudo, aquilo que dava vida e identidade ao primeiro filme e que não está tão forte nesta sequela é, sem dúvida, a música. Em Moana (2016), as canções foram compostas e escritas por Lin-Manuel Miranda, compositor de musicais como In the Heights (2005) e Hamilton (2015). O facto do seu background estar na escrita de musicais, trouxe uma alma à história que dificilmente se sente neste seguimento. Em Moana 2, quem calça os sapatos de Lin-Manuel são o duo Emily Bear e Abigail Barlow que recentemente estiveram por detrás da criação do concept album: The Unofficial Bridgerton Musical. O seu estilo de música foge daquilo que conhecíamos do filme anterior, trazendo uma onda muito mais pop e com um ritmo por vezes mais funky. São músicas giras mas que não marcam.
Inicialmente, Moana 2 era suposto ser uma série limitada para o serviço de streaming da Disney+; uma comédia musical que seguia diferentes personagens. Este registo não é novidade nas produções da Disney, temos os exemplos de séries bastante populares que foram criadas e inspiradas nos filmes originais, tais como: Hercules (1998-1999), Timon & Pumbaa (1995-1999), e The Emperor’s New School (2006-2008). Estas séries permitem, pelo seu formato, explorar pequenas ideias dentro do universo de cada filme. A decisão em tornar as novas aventuras de Moana numa longa-metragem foi simplesmente por questões financeiras. Bob Iger, o CEO da Disney, admitiu que não tinham forma de sustentar a série nesta plataforma, precisavam de algum lucro extra, que vem do box office.
Concluindo, apesar de ainda se conseguirem fazer algumas ligações bonitas entre o filme e a vida/experiência da sua respectiva audiência (essa é a beleza da experiência humana e da arte: toca de diferentes maneiras a cada pessoa), Moana 2 é um filme que não tem muita necessidade de existir e que não acrescenta muito mais à história, dado que os valores e personalidade de Moana e da sua comunidade, ficam logo bem assentes no primeiro filme. Moana contém uma densidade emocional grande, sem medo de inovar; Moana 2 é uma versão mais suave do primeiro e uma tentativa de insistir na ideia de que a sua protagonista não é uma princesa da Disney, por não corresponder ao estereótipo que assim as tornam. Contudo, acho que seria bem mais revolucionário permitir que se assumisse como princesa. Existe uma conotação destas princesas serem frágeis e ingénuas que tem sido constantemente quebrada ao longo dos anos e que já nem faz sentido ser aplicada.
Isto para dizer: Bob Iger, se é por questões de dinheiro que uma decisão tão grande como passar de uma série para um filme, existe, acho que a escolha correta é adiar ou simplesmente cancelar. Pois se este filme tivesse sido uma série, poderia ter sido mais engajador e bonito na mesma. Se calhar deviam ter aprendido com a mensagem desta história e encontrar valor naquilo que já tinham.