Foi em 2018 com Searching, de Aneesh Chaganty, que o género screenlife começou a ganhar espaço no grande ecrã. Um pai solteiro que procura desesperadamente pela filha utiliza a internet para reunir pistas. Cinco anos depois, a história repete-se e Missing de Nicholas D. Johnson e Will Merrick chega às salas de cinema como uma sequência independente, mas com a mesma premissa.
Desde que o pai morreu, que June (Storm Reid) é uma jovem solitária e isolada do mundo real. Vive com a sua mãe, Grace (Nia Long), que é bastante protetora, provocando um grande afastamento entre as duas. Um dia, Grace decide tirar umas pequenas férias com o namorado Kevin (Ken Leung) e parte para Cartagena. A decisão não podia ter deixado June mais feliz, visto que finalmente ia puder aproveitar o tempo com os amigos, sem ter ninguém para a controlar. Porém, uns dias mais tarde, a jovem deixa de conseguir contactar com a mãe e inicia uma investigação para tentar descobrir o que aconteceu.
De forma geral, a história é a mesma. Um relacionamento tenso entre pais e filhos, um desaparecimento estranho e todas as decisões centradas numa tela de computador e num espaço de trabalho que se torna indispensável para resolver o caso. Porém, a grande diferença está na forma como os elementos são apresentados.
Desde logo, pela densidade do guião. Missing é um filme que sucede pelo argumento e pela edição. A união desses dois fatores permite uma integração do espectador ao longo do visionamento. Há logo a necessidade de nós próprios começarmos a delinear hipóteses sobre o que pode ter acontecido, e acabamos sempre por ser surpreendidos com os acontecimentos seguintes.
Claro que também há fatores que os aproximam, nomeadamente na forma como a trama é apresentada. Principalmente na questão das lembranças, dos problemas familiares e na ordem de edição (primeiro uma introdução e depois passar para as dinâmicas do digital).
Neste género de screenlife também é comum acontecerem diversas mudanças na formatação da tela, e neste caso isso é bastante visível. São vários os momentos em que assistimos a videochamadas, a formatos de stories, ou até a notificações que surgem em grande plano.
É importante destacar a qualidade visual do filme mas numa obra cinematográfica onde tecnologia é a base, não se entende que um telemóvel tenha mais qualidade que uma câmara. Ou então que uma diferença de espaço seja a razão para num lado haver tecnologia de ponta, e no outro parecer que estamos no início dos anos 2000. E atenção que não falamos de países de terceiro mundo. A história passa-se entre os Estados Unidos e a Colômbia.
Ainda assim, Missing é um bom quebra-cabeças. É um filme com boas interpretações, e com uma grande participação portuguesa do ator Joaquim de Almeida. Desenvolve-se numa ótima dinâmica, sem tempo para respirar, e garante satisfação ao espectador. Porém, é daqueles filmes que, quanto mais pensamos sobre ele após assisti-lo, mais nos questionamos sobre os exageros e as incongruências que encontramos ao longo da história.