Uma pequena lembrança dos anos ’90.
Man vs. Bee traz-nos o ator Rowan Atkinson (por muitos considerado o eterno Mr. Bean) aos ecrãs da Netflix e remete-nos para a clássica comédia entre o homem adulto vs. um ser mais pequeno que não se deixa vencer. Um género muito presente nos anos ’90, como na saga Home Alone, Baby’s Day Out (1994), Mousehunt (1997) – este último particularmente semelhante, visto tratar-se de Homem vs. Rato –, entre outros filmes.
Rowan Atkinson é Trevor, um homem no seu primeiro dia de trabalho como “housesitter” (pessoa contratada para tomar conta de uma casa enquanto os seus proprietários estão fora), numa casa de luxo equipada com um elevado nível tecnológico. Uma tarefa que parece simples, mas que pressupõe a existência de um completo manual de instruções dos proprietários. A companhia indesejada de uma abelha faz com que Trevor foque demasiada atenção na tentativa de a exterminar, o que o deixa fora de controlo.
Esta série é composta por 9 episódios: o primeiro com aproximadamente 20 minutos, e os restantes com aproximadamente 10 minutos. Feitas as contas, Man vs. Bee tem cerca de 1 hora e 40 minutos, ou seja, o tempo comercialmente comum de uma longa-metragem, o que leva a pensar se a divisão em episódios favorece o conteúdo em comparação ao lançamento em formato de filme. A própria forma episódica remete também para os “bons velhos tempos” de Mr. Bean (1990-1995) – onde os episódios tinham apenas 20 minutos e não possuíam, necessariamente, uma narrativa linear entre si – e isso é algo a ter em conta. Contudo, o formato desta série é de narrativa linear e a quebra entre episódios faz sentir que é um corte entre atos/fases narrativas ou simplesmente divisões entre ações – uma espécie de esquema que transmite uma sensação de que os episódios se dividem em cenas, como se fossem ringues de combate: O homem vs. abelha na cozinha; o homem vs. abelha no quarto; o homem vs. abelha no quintal; o homem vs. abelha na garagem, etc.
Este tipo de formato faz com que, por exemplo, o último episódio pareça apenas um epílogo de um típico final feliz desprovido de comédia, em comparação com os restantes episódios. Ainda que este modelo possa ser mais vantajoso no contexto familiar atual – em que é mais fácil juntar toda a família por 10 minutos, uma vez por dia, durante 9 dias do que juntar a família para um serão de 2 horas para ver um filme que relembra a comédia física dos anos 90′ – é sempre intrigante pensar se o formato de longa-metragem não seria mais bem conseguido como obra, pois desta forma talvez não se sentisse que o epílogo teria a necessidade de momentos cómicos, ao contrário do último episódio.
Excluindo esta problemática que causa estranheza, o ponto principal é realmente esta comédia física que Rowan Atkinson domina desde sempre e que, agora com 67 anos de idade, continua a dominar. É com esta mestria que a série nos distrai e é com esta mestria que Atkinson nos traz momentos de alegria, soltando desde os mais pequenos risos a algumas gargalhadas. É com essa mesma comédia física que a série brinca com a expectativa: ainda que a história seja bastante previsível, existem momentos em que sentimos ansiedade do pior que está prestes a acontecer e que acaba por não acontecer, assim como momentos em que o pior acontece de um plano para outro, num corte, num instante.
Trata-se, portanto, de uma pequena lembrança de um todo. Uma peça que traz à memória este todo que se encontra, nostalgicamente, nos anos 90′. Um “novo Mr. Bean” numa “nova história” do Homem contra o Animal. Uma série para toda a família, mas infelizmente, não para todas as pessoas.
2 comentários
Obriagado
Obrigado pela partilha