Maestro (2023)

de Guilherme Teixeira

Realizado por Bradley Cooper, que também dá vida ao protagonista, esta nova aposta da Netflix propõe-se a contar a vida do icónico maestro Leonard Bernstein e a relação que teve com a atriz costarriquenha Felicia Montealegre (Carey Mulligan).

Este é o típico caso de um filme que sofre por ter o aval da família e por, talvez, se focar naquilo que realmente pouco interessa. Ou isso, ou simplesmente foca-se na parte mais interessante da vida do maestro, mas na forma errada. Isto é, o filme vira as suas atenções para o romance entre Bernstein e Felicia, o que direciona a narrativa para um caminho interessante, pois esta mulher, aqui, tem um papel determinante para o desenvolvimento do protagonista e, por consequência, da história, fugindo assim da tal maldição das biopics, que retratam os seus visados como egomaníacos e aqueles que o rodeiam como peões que são facilmente descartáveis. Porém, apesar desta proposta, o filme pouco ou nada oferece nos outros aspetos da vida dos protagonistas o que, apesar de ser cativante, a certo ponto acaba por arrastar a narrativa e cair numa espiral do mais do mesmo, resgatada pelo talento de Bradley Cooper e Carey Mulligan que conseguem ter presença e convencer a audiência que existe aqui alguma coisa a mais.

Seria também interessante se o foco estivesse nas carreiras profissionais de ambos. Quando digo explorar não me refiro apenas a mostrar o quanto as pessoas gostavam destas figuras, mas sim, mostrar os protagonistas em ação. Aliás, seria muito mais interessante ver como a paixão pelas suas artes influenciava a sua relação amorosa ao invés de estar a apostar apenas no talento dos atores para carregar as mesmas cenas. Quanto muito, conseguia oferecer variedade à narrativa. Se o filme é intitulado Maestro, seria de esperar vê-lo a conduzir uma orquestra de vez em quando.

Contudo, como já mencionado, as atuações são bastantes boas; existe um distanciar do protagonista, na narrativa, que de certa forma o humaniza, acudido pela resolução em 4:3, que ajuda a criar um certo sentimento de intimidade que nos faz aproximar da história. Além disso, a utilização das composições de Bernstein para ditar os momentos da sua vida é feita de uma forma bem engenhosa. O preto e branco também é bastante bem trabalhado e a passagem para as cores é feita de uma forma a criar uma certa ironia narrativa na vida do casal.

Agora, caro leitor, é bom ter em conta que grande parte desta crítica se baseia bastante na gigantesca expectativa que este filme gerou neste crítico, ou seja, o desapontamento não quer dizer que o filme seja necessariamente mau ou medíocre ou apenas bom, pelo contrário. Maestro é um filme que podia ser maior do que é se tivesse a coragem de ir além do casamento de Leonard e Felicia. Existem momentos em que parece que está a explorar algo polémico, mas na realidade é, como se diz na gíria, só para inglês ver. Não obstante, o refinamento da realização e as atuações de dois brilhantes atores conseguem disfarçar algumas incongruências do filme e o momento final toca na genialidade. Só é pena não haver mais momentos finais ao longo do filme.

4/5
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António Lourenço 28 de Dezembro, 2023 - 10:19

Pouco o nada foi dito sobre a carreira, excepcional de um dos maiores Maestros de musica erudita, do seculo XX. Além da sua contribuição para a divulgação e ensinamentos da chamada musica clássica.

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