Lightyear (2022)

de Pedro Ginja

“To Infinity and Beyond” era a frase repetida de Buzz Lightyear, no clássico da Pixar, Toy Story (1995). Esse Space Ranger, com o desejo de explorar o espaço até o infinito e mais além, era, nesse filme, o novo brinquedo favorito de Andy, destronando Woody, o cowboy mais famoso no género de animação. Esta história foi seguida por três magnificas sequelas, que asseguraram e concluíram o legado da saga Toy Story, aparentando um capítulo final.

Foram muitas as confirmações – incluindo a voz de Woody (Tom Hanks) – que Toy Story 4 (2019) seria o ultimo filme da saga, mas desde 2016 que nos estúdios da Pixar já circulava a ideia, e o interesse do realizador Angus MacLane, de fazer um spin-off sobre a personagem de Buzz Lightyear. Para o comum dos mortais a confirmação só chegou em Dezembro de 2020, durante a reunião de investidores dos estúdios Disney. As reacções não foram as mais entusiásticas, sendo a principal questão o porquê deste filme acontecer e se era mesmo necessário uma explicação para quem era Buzz Lightyear em Toy Story.

Com a estreia do primeiro trailer percebeu-se que era a história da personagem que inspirou a criação do brinquedo e não um filme sobre o próprio brinquedo, e agora a espera finalmente termina, desfazendo as dúvidas ainda existentes. Lightyear conta a história do capitão Buzz Lightyear (V.O. Chris Evans), patrulheiro espacial, numa missão em busca de um planeta capaz de sustentar vida humana de forma segura.

E é exatamente essa última frase que define o filme, uma aposta segura. Ao descobrir o homem por detrás do brinquedo, são reveladas as razões que tornaram o brinquedo tão carismático e desaparece muito do seu mistério. Buzz é um homem determinado, com sentido de missão e, acima de tudo, de perfeição e do dever cumprido. Mas é também um homem isolado, fechado na sua individualidade e com dificuldade em confiar noutras pessoas e nas suas capacidades. Obviamente, nem tudo corre bem nesta missão, acabando por levar a personagem, como já tem sido apanágio da Pixar, a passar por um momento de dificuldade que põe em causa tudo aquilo em que Buzz acredita, aquilo que o define e mesmo o seu sentido de dever e honra.

A presença de um sidekick encaminha-o para uma viagem de redenção e de superação dos seus medos mais escondidos. Nada disto é um spoiler mas uma explicação genérica da magia da Pixar, repetida inúmeras vezes, de forma genial nas suas outras produções. É inegável a sua maestria neste equilíbrio de entretenimento e coração, mas em Lightyear o jogar pelo seguro acaba por prejudicar mais o coração que a diversão, acabando por retirar o investimento emocional em personagens-chave da história para dar primazia à acção, mesmo que esta seja de qualidade bem superior a outras ofertas no mercado. 

É essa mesma mestria da Pixar que aumenta a exigência do seu espectador perante as suas histórias, por isso estes pontos mencionados não significam que estejamos perante um mau filme, longe disso. Há muito para gostar aqui, com destaque para as sequências no espaço em que a gravidade (ou ausência da mesma) é animada de forma perfeita, assim como as constantes homenagens ao universo sci-fi, seja ele vintage dos anos ’50/’60, futurista ou mesmo na absoluta reverência com que a saga Star Wars é homenageada em tantos momentos. O humor é também bem executado, assim como alguns conceitos e ideias mais profundas, como a importância do tempo e o erro como ferramenta de crescimento pessoal, temas que demonstram que a Pixar continua a educar as nossas crianças e a mostrar as lições importantes para a vida.

Longe da genialidade dos grandes filmes da Disney*Pixar, Lightyear não deixa de ser uma excelente proposta de entretenimento para todos, sejam eles crianças ou adultos. É mesmo uma pena a sua aposta num argumento seguro e competente quando Buzz Lightyear necessitava de algo que o transportasse para o infinito e bem mais além.

3.5/5
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