Realizado por Ellen Kuras, Lee estreou no festival de Toronto em 2023 e conta com Kate Winslet na pele da icónica fotógrafa americana, Lee Miller, que se tornou numa aclamada correspondente da revista Vogue durante a Segunda Guerra Mundial ao cobrir o trabalho das enfermeiras na Europa e algumas batalhas na Alemanha e na França.
Este filme representa grande parte daquilo que me perturba num oscar bait. A profundidade do argumento vai só até aos joelhos, que é como quem diz – só se preocuparam em compor um monte de cenas dramáticas para mandar para a academia e quiçá ter direito a ver um clipe ao vivo na cerimónia.
O filme tenta captar um pouco da vida de Lee nos círculos intelectuais na sociedade pré-guerra, principalmente na francesa, e depois entra às cambalhotas na sua vida como correspondente, desde a sua entrada na Vogue, passando pela sua ida para a frente de batalha, a icónica foto na banheira na casa de Hitler e os traumas do pós-guerra. Contudo, parece que o argumento não tem a capacidade para aprofundar estes temas, provavelmente por falta de recursos que impediram de mostrar mais do que as mesmas cenas dentro de um compartimento onde vemos Kate Winslet a atuar de forma extraordinária. Não obstante, soam sempre como o mesmo tipo de situações com as mesmas cargas emocionais.
Em primeiro lugar, durante grande parte desta longa-metragem, pouco ou nada sabemos sobre o paradeiro dos supostos amigos chegados de Lee. São raros os momentos em que a protagonista se mostra preocupada em tentar contactá-los ou sequer mencionar algum temor em relação ao destino destas pessoas. Só a meio do filme é que recuperam uma personagem que também rapidamente atiram para o canto. Fica apenas o sentimento de ser um aspecto da sua vida que a equipa de argumentistas apenas lembrou-se na reta final.
Não existe também uma discussão profunda do facto de, na altura, correspondente de guerra ser uma área maioritariamente exercida por homens e as dificuldades que Lee passou para se afirmar neste mundo. Tudo o que é apresentado se resolve num punhado de cenas ficando a percepção de ser apenas um mero inconveniente.
Posto isto, depois de uma construção enfadonha, se havia esperanças de algum possível entusiasmo em relação ao momento que Lee parte para a Europa para finalmente assistirmos aquilo que a fez famosa, as mesmas deixam bastante a desejar quando somos confrontados com passagens pouco inspiradas sustentando-se muito em espécies de easter eggs das fotos mais marcantes do seu álbum.
A forma como o pós-guerra é abordado é consistente com a apresentação geral da narrativa. Fraco e sustentado pura e simplesmente no talento de Winslet. Nota-se que existem traumas e percebe-se que há uma tentativa de deixar muito na sugestão aquilo que possa ter ou não passado na cabeça de Lee nos anos seguintes a este evento, todavia, perante tudo aquilo que é apresentado, fica a questão do porquê de se ter feito um filme sobre esta pessoa e não de outro correspondente qualquer. A verdade é que todos sabemos, mas o filme não se pode apoiar apenas nisso.
Depois de assistir este filme a única palavra que vem à cabeça é: frustração. O potencial era grande, mas a falta de recursos e talvez de coragem fizeram com que um projeto ambicioso virasse uma obra que dá significado ao termo oscar bait. Fica a atuação incrível de Kate Winslet e talvez, olhando por uma perspectiva otimista, dá a conhecer o incrível trabalho que Lee Miller realizou durante este período da história.